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ARTIGOS

Naluh Gouveia tem razão — e o futuro do Acre agradece

Naluh Gouveia tem razão — e o futuro do Acre agradece

Em meio à turbulência política e ao desgaste institucional no Acre, uma figura vem apontando o caminho do controle, da razão e da responsabilidade: a conselheira Naluh Gouveia. Sua atuação firme — que incomoda ao poder, especialmente quando monetariamente exposta — é a luz que nossa democracia precisava.

Desde que assumiu o Estado, o governador Gladson Cameli enfrenta denúncias graves. A Procuradoria-Geral da República acusa-o de liderar organização criminosa, corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e fraude em licitação, com impacto de milhões aos cofres públicos, na esteira da Operação Ptolomeu. Investigações da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União revelam ainda indícios de movimentações suspeitas envolvendo bilhões de reais, com pedido de bloqueios de R$ 120 milhões em bens, além de revelações de compras de automóveis de luxo, aeronaves e depósitos fracionados que somam milhões.

Tudo isso enquanto órgãos como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal se movem com lentidão — a ação vem, muitas vezes, tardiamente, quando o estrago já está feito. Em contrapartida, a conselheira Naluh Gouveia age com celeridade e firmeza, no momento certo. Sua medida cautelar para suspender repasses para o rodeio da Expoacre não foi ato “contra a festa”, mas uma defesa da lisura e do uso racional dos recursos públicos. A falta de documentação que justificasse a verba, ali, era motivo mais que suficiente para sua atuação. Mesmo que a Justiça tenha, em seguida, liberado o repasse, o verdadeiro feito foi criar um precedente: o TCE-AC age — e impede, antes que aconteça — o que pode se transformar em rombo às finanças do Estado.

Esse contraste entre atuação tardia dos órgãos de controle externo e uma iniciativa técnica tempestiva evidencia uma verdade: Naluh tem razão. E a persistente tentativa, agora, de silenciá-la — afastando-a da relatoria das contas estaduais — é uma clara demonstração do uso do poder financeiro como instrumento de coação e desqualificação. Viva o poder, mas o da tradição do controle externo, da cautela responsável, que se pauta por dados e não por pressões.

Se o governo gasta milhões com eventos e shows festivos, muitas vezes sem controle rigoroso — e, ainda, não paga o que deve aos servidores, como nos PCCRs — mostra a inversão de prioridades: recursos para o espetáculo, não para quem sustenta o Estado com seu trabalho. São servidores que vivem a angústia de planos de carreira engavetados, enquanto os cofres se esvaziam entre luzes e fogos, sem responsabilização. Naluh, ao querer saber: “cadê o dinheiro, cadê a justificativa?”, apenas cumpre seu papel cívico.

Vejamos na burocracia uma possível forma de poder neutro, de resistência institucional ao arbítrio político - celebrando a responsabilidade pública como antítese do autoritarismo. E é desta forma que a conselheira encarna essa burocracia vigilante: técnica, impessoal — e tremendamente humana. Isso, sim, é política com P maiúsculo.

Neste estado conturbado, Naluh Gouveia representa uma certeza: há quem ainda preserve o rigor e o medo do malfeito. Enquanto isso, o poder tenta silenciar esse vigia. Mas a sociedade precisa se lembrar: proteger quem fiscaliza é garantir que o futuro tenha freios, e que a vida pública possa um dia voltar a ser, de fato, comum.

*Tácio Júnior é jornalista, pela Universidade Federal do Acre, e acadêmico de sistemas para internet, pelo Instituto Federal do Acre