Morreu nesta segunda-feira (6) o médico irlandês William John Woods, conhecido pelos colegas e pacientes como Dr. Guilherme. Desde a década de 70, no Acre, Dr. William lutou de forma incansável contra a hanseníase, realizando diversos atendimentos, atuando mesmo depois de aposentado. Em nota, o governo Acre e o Sindicato dos Médicos do Acre lamentaram o falecimento.
O Sindmed lembrou que por sua dedicação, o médico foi agraciado com “o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico e com o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal do Acre (Ufac)”.
Já o governo reforçou que a dedicação incansável de William Woods resultou na descoberta de uma cura para a doença tropical de Jorge Lobo, uma enfermidade exclusiva da região amazônica, que assolava a população do Acre.
“Durante quatro anos, Dr. Wood dedicou sua vida a essa causa, com o apoio irrestrito do governo do Acre, que reconheceu a importância de seu trabalho devido à alta incidência da doença no estado”.
A história de William Woods
William John Woods nasceu em 1937, em Belfast, Irlanda do Norte, em família com quatro irmãos. Seu pai trabalhou como marinheiro voluntário na Segunda Guerra Mundial. Desde os 14 anos era filiado à Igreja Evangélica, onde teve o primeiro contato com a hanseníase, através da ajuda que o seu grupo oferecia à American Leprosy Missions (ALM). Frequentou um seminário batista e ali conheceu diversas pessoas que migraram para a região Norte do Brasil para fundar novas igrejas. Influenciado pelas histórias contadas por esses seminaristas, o depoente decidiu partir também para o Brasil.
Chegou ao Brasil através do estado do Amazonas, em 1960. Vendo a difícil realidade daquela população, comoveu-se e resolveu tornar-se médico para diminuir um pouco os problemas de saúde e o sofrimento do povo da região. Inicialmente se tornou paramédico, realizando curso voltado para a área de hanseníase, promovido pela Leprosy Research Unit. Em 1968 foi para Manaus, cursar Medicina, e se graduou em 1974 pela Universidade Federal do Amazonas. Estagiou com o professor René Garrido no Instituto de Leprologia (IL) em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. No IL obteve a especialização em oftalmologia e trabalhou no Hospital Colônia de Curupaiti, em Jacarepaguá. Fez parte do primeiro grupo a trabalhar com prevenção de incapacidades provocadas pela hanseníase, em Manaus.
Transferiu-se em 1979 para o Acre, onde foi gerente do Programa de Dermatologia desde 1981 até o início da década de 2000. Em 1997 recebeu o título de Cavalheiro da Ordem Britânica, concedido pela Rainha da Inglaterra, sobretudo por seu esforço
em combater a doença no Brasil. Com sua equipe, implementou a prevenção de incapacidades físicas e a adaptação de calçados, juntamente com a poliquimioterapia, no estado do Amazonas, que já foi o mais endêmico do país.
Considera-se o Acre um exemplo de sucesso com grande redução da endemia, mesmo antes de apresentar boa cobertura da atenção básica. Isso graças às ações no interior de igarapés, coordenadas por ele, levando diagnóstico e tratamento a todas as populações ribeirinhas, na medida do possível. Atualmente continua atuando como assessor do Programa Estadual de Controle da Hanseníase e outras dermatoses tropicais no Acre, dedicando sua vida ao trabalho e à Igreja.