O que parecia mais um caso abafado dentro dos arquivos do sistema de justiça do Acre acaba de ganhar novos contornos. Um despacho assinado pela promotora Maria Fátima Ribeiro Teixeira, do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), no dia 30 de agosto de 2025, determinou a reabertura das investigações sobre a invasão truculenta da Polícia Militar na residência de Maria José Pereira, uma idosa de 67 anos que morreu após o episódio, no bairro Pista, em Rio Branco.
O documento, autenticado no sistema do MPAC, derruba de vez a tentativa de arquivamento e expõe o silêncio suspeito de órgãos públicos que, até agora, não responderam adequadamente às solicitações do MP.

A promotora foi categórica: as informações prestadas pelas autoridades até o momento são insuficientes e não esclarecem os abusos cometidos na operação, ordenando novas diligências e ofícios para aprofundar o caso.
A decisão acende um alerta sobre o que pode ter sido uma das mais graves falhas institucionais, envolvendo a morte de uma mulher inocente após uma ação sem mandado judicial em seu próprio lar.

O caso ocorreu em fevereiro de 2024. Segundo relatos de familiares, policiais militares invadiram a residência sem mandado judicial, alegando que buscavam o filho de Maria José, Márcio Pereira, suspeito de furto — mas que, conforme documentos o mesmo já estava preso há dois anos.
Durante a invasão, a idosa passou mal, e teve que ser levada de SAMU ao pronto socorro de Rio Branco onde sofreu um infarto e morreu na mesma semana.
Enquanto a família tentava socorrê-la, duas mulheres — Márcia e Magna Pereira, filhas da vítima foram presas e humilhadas sob acusação de desacato. Uma delas chegou a relatar que um dos policiais, rindo dentro da audiência, debochou dizendo que “o caso contra eles já estava arquivado”.

Entre os citados no boletim de ocorrência está o policial Manoel Ribeiro do Nascimento Neto, apontado como o agente que agrediu a advogada Helane Christina na delegacia, quando buscou ter acesso as clientes. Outros três policiais participaram da invasão, mas seguem protegidos pelo anonimato, em um manto de silêncio que o Ministério Público agora tenta romper.
A decisão da promotora Maria Fátima Ribeiro Teixeira representa um duro golpe na tentativa de enterrar o episódio. O despacho revela que há indícios suficientes de abuso de autoridade, invasão de domicílio e negligência administrativa, reacendendo a esperança por justiça em um estado onde casos de violência policial raramente chegam a punições exemplares, principalmente pela Corregedoria.

Para os familiares de Maria José, o que houve naquele dia não foi apenas uma operação policial mal conduzida — foram vários crimes cometido dentro de um lar, diante de testemunhas, e até hoje sem respostas.
Com o novo despacho, o Ministério Público rompe o silêncio institucional e desafia a impunidade que há mais de um ano encobre a morte da idosa.
A cada linha do documento, fica evidente o desprezo com que parte das forças de segurança tratou uma família inteira, marcada pela dor, pelo abuso e pela perda.
