Nos bastidores da política acreana, especula-se que o ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, poderia ser vice de Mailza Assis, atual vice-governadora, na eleição de 2026, em uma corrida ao Palácio Rio Branco. No entanto, essa hipótese ignora aspectos fundamentais de sua trajetória e capital eleitoral.
Marcus Alexandre é amplamente reconhecido como um dos melhores prefeitos da história de Rio Branco. Sua gestão eficiente e proximidade com a população o consolidaram como uma das principais lideranças do estado. Na última eleição, mesmo enfrentando uma máquina governamental poderosa, obteve quase 100 mil votos, demonstrando a força de seu nome e militância.
Pierre Bourdieu argumenta que o capital político se constrói por meio de credibilidade e confiança ao longo do tempo. Marcus Alexandre personifica essa construção, e seu eleitorado foi conquistado com uma posição crítica ao governo atual. Assim, é improvável que aceite ser coadjuvante de um grupo ao qual sempre fez oposição.
Mailza Assis, por outro lado, nunca teve voto popular. Sua ascensão política ocorreu por arranjos institucionais: primeiro como suplente de senador, depois como vice-governadora. Como destaca Manuel Castells, na era digital, a legitimidade política vem da capacidade de mobilizar apoio genuíno, e não apenas de ocupar espaços de poder. Pesquisas indicam que sua candidatura ao governo não empolga o eleitorado em geral e nem mesmo os eleitores de seu próprio campo político.
Outro fator relevante é a situação do governador Gladson Cameli, suspeito de envolvimento em um esquema de desvio de quase R$ 1 bilhão. Norberto Bobbio enfatiza que transparência e credibilidade são pilares de um governo sustentável. Diante disso, é improvável que Marcus Alexandre componha uma chapa com um grupo cuja reputação está abalada.
Não se trata apenas de uma questão eleitoral, mas de coerência política. Como pontua Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos, onde alianças são efêmeras. Contudo, líderes autênticos não trocam convicções por arranjos momentâneos. Marcus Alexandre construiu sua trajetória com base na gestão eficiente e na fidelidade ao seu eleitorado. Tornar-se vice de uma figura sem base eleitoral e ligada a um governo envolto em escândalos seria um movimento incoerente com sua história.
A tese de que Marcus Alexandre embarcaria nessa articulação política não se sustenta. A imprensa tem papel crucial ao analisar os bastidores da política, mas deve evitar transformar encontros protocolares em cenários hipotéticos sem embasamento.
A história recente da política acreana ensina que líderes que abdicam de sua identidade para se tornarem meros coadjuvantes pagam um alto preço nas urnas. Sendo assim, acredito que Marcus Alexandre certamente não cometeria esse erro. Mas, se isso de fato ocorrer, é fundamental que o ex-prefeito tenha a devida dimensão do custo político histórico da sua tomada de decisão.
Tácio Júnior é jornalista, formado pela Universidade Federal do Acre, acadêmico de sistemas para internet, pelo Instituto Federal do Acre, e assessor parlamentar.