..::data e hora::.. 00:00:00
gif banner de site 2565x200px

ARTIGOS

A melhor farinha do Brasil tem o seu preço

A melhor farinha do Brasil tem o seu preço

Só quem já trabalhou na produção artesanal da farinha de mandioca sabe o trabalho que dá. É um longo processo até o resultado final. Na feitura de uma “farinhada”, são necessários pelo menos dois dias de intenso trabalho. Um dia para a “arranca” (ato de arrancar a raiz do solo) e a prensagem e outro para a “torragem” (torrefação). E quanto maior o número de pessoas empenhadas, melhor. Numa casa de farinha, costuma-se dizer que há funções para todos. A realização das tarefas ocorre quase simultaneamente e exige muita agilidade de todos os envolvidos. Se eu fosse descrever, aqui, toda a atividade laboral, desde a plantação, seria uma longa narrativa.

Até há pouco tempo, a farinha de mandioca era produzida, na região do Juruá, de forma completamente manual. Atualmente, já existem equipamentos mais avançados e novas técnicas que dão mais celeridade e diminuem, minimamente, os custos da produção, mas poucos produtores têm acesso a essa novidade. E, por outro lado, também, faltam políticas públicas de fomento e linhas de crédito dos governos para financiarem produções em larga escala, sem que o produto perca valor.

Da casa de farinha até a mesa do consumidor, o alimento processado passa por uma cadeia comercial intermediária. O mais comum é o agricultor vender diretamente para o “marreteiro’’, que compra o produto por um preço abaixo do custo e revende, no varejo, por um preço bem mais alto. Ele, o marreteiro, revende também para empresários locais ou exporta, em pouca quantidade, para fora do estado.

Hoje em dia, em Cruzeiro do Sul, há um consórcio de cooperativas que coordena um processo de negociação mais vantajosa para os produtores, valorizando o setor primário.

Nas últimas semanas, o juruanense, que costuma ir ao mercado comprar farinha, foi surpreendido com um aumento exponencial do preço. Uma saca de farinha que, normalmente, custa mais ou menos R$ 80,00, hoje, não se compra por menos de R$ 180,00. Produtores e comerciantes do setor afirmam que, há anos, não havia uma supervalorização tão repentinamente.

Quanto ao preço, há, nesse ponto, um aspecto muito importante: a valorização do trabalho humano. Esse é um direito social previsto na Constituição Federal e precisa ser legitimamente reconhecido, para que se proporcione cidadania ao homem do campo, que encontra nessa atividade árdua – a agricultura –, a única maneira, muitas vezes, de ganhar a vida com dignidade e muito suor.

A agricultura é arte do cultivo. Uma atividade milenar, que tem papel fundamental no desenvolvimento das sociedades modernas. Dentro da cadeia produtiva, a atividade agrícola é a responsável por produzir o alimento que chega à feira urbana e, posteriormente, à mesa do consumidor.

Essa elevação do preço é um fenômeno passageiro e não se sabe muito sobre a sua estabilidade. Mas, sabe-se que a farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul é a melhor do Brasil. Tem selo de procedência reconhecida e qualidade comprovada por onde já passou.

O que se espera é que o Poder Público, aliado a sindicatos e cooperativas do setor agrícola, ofereça condições para que se tenha uma produção em maior escala, mais otimizada, contínua, sustentável e com alta capacidade de exportação, para que esse produto, de forte vocação local, tenha uma permanente e justa valorização, em um mercado comercial que já é promissor e tem caminho aberto para o Brasil e o mundo.

Romisson Santos é professor.