Domingo, 19 de maio de 2024. Acordo e me deparo com meu direct lotado de mensagens de conhecidos que me encaminhavam “a notícia do dia”. As manchetes diziam: “Empresário critica a ação da Polícia Militar por realizar blitz próxima ao seu estabelecimento”, “Dono de boate critica blitzes e sugere perseguição”, dentre outras que MUITO chamaram minha atenção.
É que sou assistente de trânsito do Detran há 14 anos e como jornalista, não só faço parte, vivo e noticio as ações voltadas para melhorar o trânsito do nosso estado, como acompanho cada notícia sobre os trágicos acidentes que ocorrem, principalmente aos fins de semana.
Já ouvi e contei inúmeras histórias reais que mostraram como um acidente de trânsito que mata um pai de família desestrutura não só as emoções dos familiares, como também a estrutura financeira, psicológica e social. Também vi e contei muitas histórias de pessoas que após sofrerem um acidente de trânsito, passaram meses e até anos vivendo a difícil luta da reabilitação, com sequelas que os limitava deixando-os sem condições para trabalhar para prover suas famílias.
Mas voltando à grande notícia que partiu da reclamação e ecoou das redes sociais para os maiores sites de notícias do nosso estado e dizia: “Eu sou a favor das Blitz, tem que rolar mesmo, para ajudar toda a sociedade, mas poderia ser após a balada né!? onde sempre é feita, na rotatória, onde todos serão obrigados a passar, AGORA FAZER ANTES DO MEU ESTABELECIMENTO? A 50 METROS DA PORTA? PARECE SER PESSOAL! JÁ CHEGA!” escreveu o empresário Neto Brito em seu Instagram.
Depois de ler a matéria me peguei refletindo e até comemorando: Amanhecer vendo que essa postagem foi o destaque do noite anterior é bem melhor que amanhecer vendo uma família chorar a morte de um ente querido que foi vítima da irresponsabilidade de quem consumiu bebida alcoólica e depois resolveu cometer o crime de dirigir.
Ao passo que comemorava também me perguntava como o empresário pode ser a favor das blitzes e colocar a humanidade, responsabilidade social e cuidados com a vida em segundo plano ao passo que prioriza seu lucro pessoal?
Vale lembrar que estamos em pleno Maio Amarelo, movimento mundial que marca a luta contra a violência no trânsito. Esse ano o movimento traz o tema: Paz no trânsito começa por você, para lembrar a todos que a responsabilidade de garantir um trânsito mais seguro não é apenas de gestores, mas também de empresários e de todo e qualquer cidadão.
Outro ponto que talvez o empresário em questão não saiba é que a última pesquisa realizada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em dados coletados do Ministério da Saúde de 2021, revelou que, naquele ano, 10.887 pessoas perderam a vida em decorrência da mistura de álcool com direção, o que dá uma média de 1,2 óbito por hora.
Fica clara a urgente necessidade de retirar das vias, aqueles que insistem em priorizar o efêmero prazer de ir a uma festa e viver um momento de lazer, mas esquecem que a bebida alcoólica associada à direção é como uma arma nas mãos de quem não tem capacidade de utilizá-la, um perigo que coloca em risco não só a vida de quem a segura como também de qualquer pessoa que esteja por perto.
Por fim tenho o prazer de relembrar ao empresário em questão, assim como aos queridos leitores que esse ano o governo por meio do Departamento Estadual de Trânsito do Acre (Detran/AC) mais que triplicou o montante repassado anualmente à Polícia Militar do Acre (PMAC), por meio de termo de cooperação, repassando mais de R$ 8,5 milhões para que o trabalho em favor da vida seja potencializado.
E é aí que eu respondo a pergunta que trago no título deste artigo: Blitzes pra quê?
Investir na fiscalização de trânsito é salvar vidas, retirar condutores infratores das vias e evitar que a saúde pública seja sobrecarregada com a reabilitação de pacientes vítimas de acidente de trânsito, colaborando para que os hospitais foquem os esforços, espaços e investimentos em outros pacientes.
Enquanto o empresário reclama e aponta uma possível perseguição, as blitzes evitam que se multipliquem atropelamentos como o que ocorreu na manhã deste domingo, nas proximidades da escola Glória Perez, na Estrada Jarbas Passarinho, Bairro das Placas em Rio Branco, em que um motociclista ficou ferido após ser atropelado por alguém que estava pilotando um veículo em alta velocidade e após atropelar o motociclista, fugiu do local, sem prestar socorros.
Daigleíne Cavalcante é jornalista e assistente de trânsito do Detran/Ac.