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ARTIGOS

Cameli pintou o Acre de azul e deixou o erário no vermelho

Cameli pintou o Acre de azul e deixou o erário no vermelho

A primeira atitude do governador Gladson Cameli (não sabemos em qual partido está) ao assumir o Palácio Rio Branco, em janeiro do ano passado, foi mandar pintar todos os prédios públicos de azul, a cor de seu então partido, o Progressistas. Segundo sua vã-filosofia, essa era uma forma de apagar os 20 anos do vermelho PT e sua maldosa ideologia comunista. (Se bem que nas duas décadas de petismo no Acre nunca vi um prédio do estado na cor vermelha).

Até o momento o único prédio que ainda não foi pintado de azul é o Palácio Rio Branco, onde Cameli costuma usar suas horas vagas para cortar o cabelo usando a bandeira do Acre para aparar os fios de cabelo. Após deixar o Acre - do Aquiry ao Juruá - azulado, o governo Gladson Cameli anunciou essa semana que as contas do estado vão entrar 2021 no vermelho, com um déficit no orçamento superior a R$ 200 milhões.

E a sua gestão é a grande responsável por esta problemática. Cameli assumiu um Acre com as contas já numa situação bastante delicada. Seu antecessor, Tião Viana (PT), deixou dívidas com credores e parte do décimo-terceiro salário dos servidores públicos atrasada. Os recursos eram escassos, e o estado estava no limite do teto de gasto com a folha de pessoal ativo, além do déficit previdenciário só crescente.

Mesmo contrariando todos os cenários e projeções, Cameli decidiu contratar 500 policiais - entre civis e militares - que tinham sido aprovados em concurso durante o governo passado. Já sabendo da falta de receita para arcar com estes novos funcionários, Tião Viana foi empurrando as convocações para não estourar o gasto com pessoal.

Contratar os policiais de forma imediata tão logo assumisse o governo era uma das principais campanhas de Cameli como a solução mágica para a grave crise de segurança que vivemos até hoje. A contratação não era bem vista pelos técnicos da da Fazenda e Planejamento diante do risco do desequilíbrio das contas, como está evidenciado hoje. A pedra estava cantada, os alertas feitos, mas Cameli preferiu dar de ombros.

A contratação destes policiais não apenas não resolveu a crise da segurança, como também acelerou o processo de estouro de uma bolha orçamentária. Como ele próprio fazia questão de falar em suas entrevistas, tinha “herdado um rombo”. Ou seja, ele próprio tinha noção do tamanho do problema.

É lógico que a convocação dos agentes não é a única causa para as contas do estado não fecharem mais no azul (sim, o azul de novo). O Acre já vinha com problemas orçamentários há tempos. Com a economia do país em recessão agravada pela pandemia do novo coronavírus, o quadro só piorou.

As elevadas despesas com o pagamento de aposentadorias não param de crescer. Enquanto o estado contrata um tanto de policiais, outro tanto vai para a reserva, não fechando as contas. O pagamento com a folha de pessoal (ativos e aposentados) é o principal peso dos gastos do estado. Qualquer canetada governamental de colocar mais gente na folha ocasionaria desequilíbrio.

Para agravar a situação, o governo Cameli ainda fez o favor de o Acre perder ao menos 25 milhões de euros que seriam doados pela Alemanha e o Reino Unido caso o estado cumprisse com as metas de redução de desmatamento. Os europeus não queriam nem um desmatamento zero, mas apenas que o limite anual de 340 quilômetros quadrados não fosse ultrapassado.

No primeiro ano de Cameli foram 700 quilômetros quadrados de floresta derrubada, segundo o Inpe; o maior nível em 11 anos. E este dinheiro seria aplicado justamente no setor mais defendido por Cameli para desenvolver o estado: o rural, por meio de programas que levassem tecnologias e assistência técnica ao pequeno agricultor, reduzindo seus impactos sobre a floresta.

Cameli chegou até a extinguir o instituto responsável por gerenciar os milhões de euros, voltando atrás ao perceber a lambança que cometera. Com o Acre tendo níveis recordes de desmatamento e queimadas, não se sabe quanto virá ou se ainda virá. Em tempos de orçamento operando no negativo, toda e qualquer receita faz falta.

Promessa de redenção da economia, o agronegócio também não surte o efeito para o estado. Com uma parte do setor que não sabe aprimorar sua produção sem querer passar a boiada na legislação ambiental e na floresta, o Acre só perderá recursos, comprometendo o futuro ao transformar em cinzas e pasto uma floresta que, em pé, pode lhe render milhões, bilhões de reais.

Ao que se observa, uma série de decisões equivocadas e irresponsáveis do atual governo levou o Acre a ver suas contas comprometidas a partir do ano que vem. Um problema que já estava muito perto de acontecer foi apenas acelerado. Talvez se o governador Gladson Cameli tivesse economizado com a compra de tinta Suvinil para pintar o Acre de azul, não precisaríamos entrar em 2021 com as contas no vermelho.