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ARTIGOS

Contraí coronavírus: alguns relatos

Contraí coronavírus: alguns relatos

Eu moro com meus pais e uma irmã. Há alguns dias, começamos a sentir os sintomas da covid-19. Nós quatro sentimos os primeiros sintomas dentro de um pequeno intervalo de tempo, não mais que dois ou três dias. A partir de então, reforçamos o isolamento social que já estávamos fazendo e contamos com a ajuda de amigos e familiares que se dispuseram a nos trazer elementos necessários, se precisássemos (supermercado, farmácia etc.).

Minha irmã foi a primeira a sentir os sintomas e esperou o tempo necessário recomendado de oito dias para que pudesse fazer o teste e obter um diagnóstico preciso. Em Cruzeiro do Sul, não havia testes na rede pública no dia em que ela procurou a Unidade de Saúde. Três dias depois, os testes chegaram. Ela consultou o médico num dia, fez o exame no dia seguinte e recebeu o resultado no terceiro dia. Testou positivo.

Como meus pais são relativamente idosos, os profissionais de saúde da Unidade recomendaram que eles também fizessem o teste, para que pudessem ser monitorados e assistidos, caso o quadro clínico deles se agravasse. Eles também testaram positivo. Mesmo sentindo os sintomas, eu optei por não fazer o teste. A longa fila no Posto de Saúde foi um fator que me motivou a não fazê-lo e, consequentemente, ficar fora das estatísticas de infectados. Apesar das fortes dores no corpo, da fadiga e indisposição crônicas, estava bem.

Emagreci uns três quilos, porque perdi completamente o paladar e o olfato e isso comprometeu a alimentação. Enjoei o computador, o celular, os livros. Esses também são traços ruins da doença.

De modo geral, sentimos os mesmos sintomas, na mesma intensidade. Meus pais são ex-fumantes e praticam atividades físicas regularmente; minha irmã é atleta e cuida, sistematicamente, da alimentação; eu, há mais de um ano, não pratico exercícios físicos, mas me alimento razoavelmente bem, controlo a ingestão de bebida alcoólica e não fumo. Não sentimos falta de ar. Dificuldade na respiração é um fator que, em muitos casos, leva as pessoas à antessala da morte.

O único remédio que tomávamos, quando as dores aumentavam, era dipirona. Não tomamos cloroquina. Li dezenas de artigos e busquei muitas informações científicas. Minha irmã é bióloga, estudou microbiologia e fez estágio em laboratório. Tem noção mínima de imunologia. Tudo isso nos ajudou. Conhecimento e informação são muito importantes.

Enfrentamos a doença com tranquilidade e a esperança de que nosso quadro não se agravasse. A partir do décimo segundo dia, a melhora já era perceptível. Um alívio que se acentuou ainda mais quando os sintomas desapareceram completamente. Era a comprovação da ausência de carga viral no organismo, em razão dos anticorpos adquiridos.

Busquei informações sobre a imunidade no pós-contágio. Os parcos estudos que existem até hoje indicam a imunidade, pelo menos em curto prazo. Há inúmeras frentes de pesquisa sobre isso, no mundo inteiro. Mas, o paciente recuperado pode, ainda, ser um vetor mecânico do vírus, principalmente se ele tiver contato com objetos contaminados. Por isso, a importância de manter os cuidados de higiene e distanciamento social.

Nós estamos bem e recuperados. Mas, irmãos nossos, anônimos e conhecidos, em toda parte da nossa Casa Comum – o Planeta –, estão perdendo a vida e endossando as estatísticas de um luto que parece ser interminável. O vírus é um inimigo invisível e letal. Ao fim deste século, a coivd-19 terá sido, talvez, o maior infortúnio do nosso tempo.

Busque informações, siga as recomendações e tenha fé que a vida voltará ao normal. Um novo normal.

Romisson Santos é professor.