Em um segundo, uma atitude imprudente faz várias vítimas no trânsito de Rio Branco.
Era só mais uma segunda-feira. O mês de julho se despedindo, o calor forte castigando, a fumaça no céu dificultando a respiração, vida acelerada... só mais uma segunda-feira comum na capital acreana e o assunto do dia era a Expoacre 2023 e suas novidades.
Mas, no final daquela manhã, na Rua Rio de Janeiro, no bairro Dom Giocondo, um grave acidente de trânsito aconteceu, fazendo cinco vítimas, uma muito grave.
As imagens, divulgadas sem pudor nas redes sociais, mostravam um motociclista sendo atingido por um carro que invadiu a contramão em alta velocidade, batendo ainda em um terceiro automóvel.
Em outro vídeo, ainda mais absurdo, foi possível ver que, com a batida, parte da perna do motociclista foi decepada.
A notícia rapidamente ganhou espaço nos sites jornalísticos, TVs e redes sociais. Foram inúmeras reportagens, publicações, postagens e comentários.
Mas o que não foi mostrado é que naquela segunda-feira, 31, um jovem saiu de casa, pilotando sua motocicleta rumo à realização de seus projetos. Ele poderia estar a caminho do trabalho, talvez indo resolver um assunto familiar ou visitar um amigo.
O que ninguém publicou é que naquela segunda-feira, 31, um condutor apressado acelerou imprudentemente rumo aos seus compromissos, mas não conseguiu conclui-los e ainda atrapalhou os planos de cinco pessoas.
O que ninguém comentou foi que naquela segunda-feira, 31, essas vidas se encontraram tragicamente, muita dor foi sentida e planos foram frustrados.
Naquele dia, enquanto os sites noticiavam o acidente, escancarando as imagens, enquanto os internautas impressionavam-se, encaminhando os vídeos, enquanto inúmeros motociclistas se arriscavam, desrespeitando os limites de velocidade, enquanto diversos condutores ignoravam o cinto de segurança... um jovem, com a perna decepada, em situação traumática, encontrava sua família no hospital, e juntos choraram pelos planos adiados e sonhos ceifados.
O dia se findou, agosto chegou e o assunto voltou a ser a Expoacre 2023. Provavelmente no calor intenso dos dias subsequentes, muitos motoristas e motociclistas seguiram transitando apressados e imprudentes e aquela notícia que incialmente chocou a todos, vai sendo lentamente esquecida.
Sexta-feira, 04 de agosto e mais uma vez os acreanos são surpreendidos com a triste notícia de um acidente de trânsito grave. Dessa vez, um carro com sete pessoas em alta velocidade bate em um caminhão, na BR-364.
De repente, oito vidas foram atingidas. Cinco pessoas morreram, três ficaram gravemente feridas e o ritual das notícias publicadas, vídeos compartilhados e inúmeros comentários nas redes sociais se repete, assim como a dor das famílias daquelas vítimas.
E somente enquanto você lê esse artigo, mais uma pessoa morre no Brasil, vítima de acidente de trânsito. É que, de acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária, uma pessoa morre a cada 15 minutos por causa de acidente de trânsito no país, e a cada dois minutos uma sofre sequelas por causa de ferimentos decorrentes de acidentes nas vias.
No Acre, de acordo com a Coordenação de Engenharia e Estatística do Detran, somente no primeiro semestre de 2023 foram 23 mortos no trânsito, o que representa uma redução de 8%, comparado ao mesmo período de 2022, porém os acidentes que fizeram vítimas não fatais aumentaram 1%, com o total de 905 acidentes.
Outro dado que chama a atenção é o número total de acidentes de trânsito nas vias estaduais, aproximadamente dois mil, dos quais mais de 500 envolviam motocicletas.
E quem, dos quase dois mil envolvidos em acidentes e 23 mortos, imaginaria viver uma tragédia dessas? Certo é que, se pelo menos imaginassem, provavelmente fariam tudo para evitar!
É aí que está o xis da questão… O trânsito não admite ensaios, como acontece no simulador de capotamento, que é a grande atração do estande do Detran na Expoacre 2023.
No trânsito, quando as leis de trânsito são desrespeitadas, vidas são colocadas em risco e é aí que planos são frustrados e sonhos são ceifados.
Por isso, não há pressa que justifique o desrespeito aos limites de velocidade, não há calor que justifique a aversão ao cinto de segurança, não há necessidade que justifique o uso do celular ao volante, a associação de bebida e direção, a imperícia, imprudência e negligência à vida.
É evidente a necessidade urgente de uma consciência social sobre a responsabilidade com a vida no trânsito.
Quem em sã consciência se coloca em risco, quem colocaria a vida da família, dos filhos em risco?
Mais urgente ainda é que condutores e pedestres percebam o risco absurdo em que se colocam quando desrespeitam as leis de trânsito e comecem a proteger a vida com as atitudes corretas nas vias!
Daigleíne Cavalcante assistente de trânsito do Detran/AC