Querido diário,
Hoje completamos 60 dias de isolamento social durante a pandemia de COVID-19. Dia 29, mês 2, 2020.
Quando começamos estes dias, não sabíamos o que nos esperava. Não tínhamos ideia do quanto mudaríamos o modo de viver e ampliaria nossa visão de mundo, mesmo que este tenha se resumido ao ambiente do lar, da vivência com as mesmas pessoas e dos mesmos cenários.
Os casos foram aumentando dia após dia até que vieram as mortes, as perdas de pessoas próximas e aí percebemos o quanto é grave a situação da saúde no Brasil. Aliás, não se faz copa com hospitais, tampouco futebol na Pandemia - infeliz trocadilho é para expressar que não aceitaremos mais pão e circo, pós-coronavírus.
Aprendemos mais sobre cotidiano, culinária, política, desligamos a TV e exercitamos mais a nossa fé. Você fez algo de produtivo nestes dias confusos?
Eu aprendi a colocar uma máscara na técnica, a ler boletim epidemiológico, a ler “efeitos colaterais” numa bula de medicamento e a me cuidar mais, melhor e sem neuras.
Os cenários políticos passaram a ser avaliados com maior rigor, visto a politização da praga chinesa. O presidente não mudou sua opinião sobre o enfrentamento do vírus, mudou ministros e sempre expôs suas ideias, “talkey”? O governador do Acre começou meio lá e meio cá, emagreceu alguns quilos, cortou o cabelo e está bem ativo no combate a crise. A prefeita se aliou ao governador e o “namoro” está dando certo. Nenhum governante é unanimidade, mas todos devem ser respeitados. É a democracia!
Fiz um canteiro novo, conheci melhor minha família, conheci lugares não visitados da casa e comi. Quem não comeu, achava que estava de férias, acordou tarde, ficou ocioso até chegar no tédio? Ah, o tédio foi sim um parceiro de todos nós, até entendermos que informação demais é desinformação e, que no afã de informar, acabávamos sendo manipulados.
Aprendemos mais sobre bom senso e limites.
Passamos a ler mais e a enfrentar melhor as adversidades, afinal este “semiaberto” nos reinventou, a videoconferência, o ensino remoto, as salas de vídeo nas redes sociais e as videochamadas agora estão mais ativas. A pandemia nos trouxe modernidade e reflexão, mas ainda não vi carros voadores, tão aguardados para está data. Vocês viram?
Ao completar dois meses, ficou o legado de dias diferentes, de números nas nossas cabeças e a experiência. A observação é libertadora. Ficou saudade da roda de bate-papo, da baladinha, do culto religioso e, principalmente, de abraços e apertos de mão.
Aprendemos a valorizar mais as pessoas e os momentos; nos sentamos à mesa e percebemos que o que vale nessa vida é ser, porque o ter ficou obsoleto sem a exposição.
Cultivamos mais as amizade e quem amamos. O vírus trouxe uma mazela incrivelmente ruim, trouxe sim. Mas nos ensinou que daqui só se leva o que vive.
Beba água, tome café, contemple seus dias, sua comida; seja grato e ame ao próximo.
O amor transforma.
Por hoje é só.
*Ismael Tavares é advogado