Nas eleições de 2022 a cidade de Rio Branco deu aos candidatos da esquerda as seguintes votações: Lula – PT (Presidente) 26,3 %, Jorge Viana - PT (Governador) 24,9%, Jenilson Leite - PSB (Senado) 18,9% e Nazaré Araújo - PT (Senado) 10,0 %. Se considerarmos o desempenho por cargos é razoável afirmar que hoje, a esquerda acriana tem potencialmente um terço do eleitorado da capital. Isso em um contexto que segundo alguns é de terra arrasada para os partidos de esquerda com destaque para o maior deles que é o PT. Estes são números em um cenário em que parte do eleitorado passa por um processo agudo de “dissonância cognitiva coletiva”, mas façamos um recorte histórico e voltemos as eleições de 2016. Neste pleito, Marcus Alexandre – PT foi reeleito com 54,87%, Eliane Sinhazique – MDB 32,02%, Carlos Gomes – REDE 8,28% e Vaz – PR 4,84%. Não vamos falar dos erros de estratégia cometidos pelo PT nas eleições de 2018, 2020 e 2022, mas é certo que eles contribuíram muito para o encolhimento do eleitorado petista. As eleições de 2016 (a última vencida por um candidato de esquerda) e a de 2022, e respeitando aqui a conjuntura política que separa os dois certames, temos nestes dois pleitos características interessantes. Se em 2016 o candidato a reeleição Marcus Alexandre – PT obteve 54,87% e Carlos gomes da REDE 8,28%, e é importante ressaltar que ambos tinham um perfil ideológico de centro esquerda e esquerda, sendo que um deles buscava a reeleição e contava com cerca de 65% de aprovação. Mesmo assim, o jovem candidato da REDE obteve um percentual que se não fosse o fraco desempenho da candidata do PMDB jogaria a eleição para um segundo turno.
Em 2022, mesmo com um cenário adverso, a esquerda conseguiu manter quase um terço dos votos, e isso nos leva a seguinte reflexão. Na eleição deste ano, Marcus Alexandre será o candidato do MDB a prefeitura, e mesmo que parte dos seus apoiadores não gostem, ele vai precisar dos votos da esquerda para se eleger. É importante salientar que e se os partidos de esquerda tiverem um candidato próprio nessas eleições, é muito provável que este candidato de esquerda não passe para o segundo turno, mas uma candidatura deste campo ideológico poderá levar esta eleição para o segundo turno. Tião Bocalon - PL é o atual prefeito e segundo colocado nas intenções de votos, vem aprimorando o seu discurso e diminuindo a sua rejeição. Por outro lado, ele conta com um vice que é do partido do governador, e isso certamente pode melhorar ainda mais o seu desempenho eleitoral Ou seja, o atual prefeito deve ir para o segundo turno com uma diferença pequena de votos em relação ao Marcus Alexandre, seja como segundo ou primeiro colocado.
Penso que a estratégia do candidato do MDB deverá ser a de apostar na memoria eleitoral e na sua experiência administrativa à frente do executivo municipal, afinal ele tinha em 2016 em torno de 65% dos leitores que aprovavam a sua gestão, mas isso foi a oito anos, e na política oito anos é uma eternidade.
Na busca pela reeleição, a estratégia de Tião Bocalon deverá ser a de apostar na realização de obras e ações em regiões mais periféricas da cidade, no anti petismo associado a narrativa de que Marcus Alexandre é um petista infiltrado, e que votar nele é votar no PT. Soma-se a isso uma pauta de valores morais e religiosos, temperado com um “bolsonarismo delirante” do qual o atual prefeito é um defensor fervoroso. Esta tática discursiva não afetará uma parte do eleitorado que seguirá votando na centro esquerda e na esquerda. Com base neste argumento podemos afirmar que se o candidato do MDB ampliar demais a sua frente política, a ponto de flertar com a extrema direita, ele poderá perder o apoio do eleitor da esquerda e de centro esquerda que estará livre e disposto a votar em um candidato que melhor represente os valores ideológicos deste campo político ideológico. Lembram dos 8% dos votos do candidato da REDE em 2016? Esses votos certamente foram dados ao jovem Carlos Gomes, muito por conta da falta de coerência de uma certa “esquerda cirandeira” e “liberal” que esqueceu os ideais e valores que são muito caros a um contingente de eleitores de esquerda progressistas e ideológicos.
A esquerda não pode se esconder sob o guarda chuva de frentes democráticas que não contemplem ao menos em parte estes valores. Muitos eleitores acrianos não terão dúvidas em votar no candidato que reafirme os valores e os ideais de esquerda. Estes valores precisam constar no plano de governo que será apresentado a população, com a liberdade e a segurança de quem não tem compromissos com grupos e lideranças conservadoras e anti democráticas.
Infelizmente, estas forças habitam o centro, a direita e a extrema direita do espectro político ideológico acriano. Quando a esquerda reafirma os seus valores históricos ela cresce e amplia as suas bases sociais. Vivemos em um momento da história em que a defesa da democracia, da liberdade, de uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna e inclusiva deve ser a nossa profissão de fé.
Como no belo hino acriano sem recuar, sem cair, sem temer. Para conter o avanço de uma extrema direita raivosa, antidemocrática, monotemática, monocromática e golpista é preciso uma esquerda corajosa, critica, moderna e articulada com os fenômenos sociais e políticos contemporâneos. Neste cenário não há espaços para a indecisão, neutralidades e negação da história.
Nilson Euclides da Silva
Cientista Político e Professor da UFAC