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ARTIGOS

Mais embaixo

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Escrevi um artigo, na semana passada, com o título “De quem é esse buraco?”, para questionar a omissão do poder público na invasão de um terreno do Estado na Estrada Irineu Serra e especular sobre o possível patrocínio político por trás da invasão. O artigo foi publicado em dois sites de notícia (acreaovivo.com e noticasdahora.com.br, agradeço aos editores de ambos), circulou em mensagens de whattsapp nos celulares de algumas dezenas de pessoas, incluindo as autoridades estaduais e municipais ligadas ao assunto e, obviamente, não gerou nenhuma resposta prática. 

Eu poderia repetir a pergunta e insistir em saber de quem é, afinal, aquele buraco. Mas já sabemos que o terreno é do Estado e quem teria a responsabilidade de cuidar dele é o governador Gladson Cameli. Seria, talvez, interessante saber quem está patrocinando a invasão, porque demonstra ter um grande poder. No dia mesmo em que meu artigo foi publicado, chegaram alguns caminhões entregando madeira e, no dia seguinte, barracos novos e bem firmes sobre grossos esteios foram erguidos. Alguns desses barracos passaram a ser ocupados também à noite, com fios da rede elétrica sendo puxados pela parte de trás do terreno, das ruas do Conjunto Jorge Lavocat. Mas ontem foi feita uma ligação da Estrada Irineu Serra e instalados alguns postes no caminho central, (uma rua, sim, senhores!) entre os lotes demarcados e ocupados.

Não sei se a Energisa, que dizem pertencer ao grupo de empresas da família do governador, está sabendo dessas ligações. Também não sei quem está fornecendo a madeira e o transporte. Só vejo que a invasão não parece ser muito pobrezinha. Deve ter um patrocinador muito interessado em resolver o grave problema do deficit habitacional na capital do Acre. Com o investimento que está fazendo e a rapidez no andamento, imagino como o local estará daqui a 30 ou 40 dias. 

Mas fico ainda mais curioso sobre os motivos do sumiço total do poder público no caso. O governo estadual abandona seu patrimônio (nosso patrimônio) e desobedece descaradamente a uma ordem judicial. A Prefeitura não aparece na Area de Proteção Ambiental colada ao terreno invadido nem para olhar a queimada que transformou em cinzas vários hectares em frente, quem sabe como preparação para a continuidade do loteamento no outro lado da estrada. Ontem, o condutor de um carro com propaganda de um candidato a deputado, passando pela APA, simplesmente cortou um ipê na margem da estrada e o transportou para usar na decoração de alguma festa e ainda ofendeu o morador do bairro que o abordou. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente recebeu as fotos da ocorrência, talvez devamos esperar uma ação… depois da eleição?

Porque é disso que se trata, comentam as andorinhas: fiscalização, reintegração de posse, multa, essas coisas que impedem ou punem o ilícito, só depois da eleição. Tudo indica que, com o governador dedicado exclusivamente à campanha reeleitoral e com o vice-governador tendo se passado para a oposição, as decisões e ações do Estado foram terceirizadas e o Acre está sendo governado por assessores. E os assessores, principalmente em época eleitoral, tem três problemas: 1) são medrosos, não fazem nada que possa quebrar essa mercadoria frágil que é o voto e ficam apavorados com o uso que os adversários podem fazer de cenas de um despejo; 2) são burros e não sabem fazer o simples cálculo de que cada voto ganho com um invasor pode corresponder a um voto perdido com a comunidade invadida; 3) são ignorantes, pois não conhecem a história do lugar nem sabem o que fazer com ele. 

Eu poderia revelar outros adjetivos que me ocorrem para qualificar os “tomadores de decisão” envolvidos no assunto, incluindo o Ministério Público, que deveria enquadrar o governo nos rigores da lei para que cumpra suas responsabilidades e simplesmente faz cara de paisagem como se nada estivesse ocorrendo. Mas não vou dizer nada, porque os adjetivos poderiam ser considerados desaforos e os rigores da lei não faltam para cidadãos sem poder. Vou apenas reproduzir o comentário que ouvi de uma antiga moradora do bairro: “parece que está faltando homem no Acre”. Dito por mim, poderia ser entendido como uma expressão um tanto machista, mas a autora do comentário é uma senhora com mais de 80 anos de idade, que sabe a diferença entre homens e meninos.

Vou repetir, sendo mais explícito: os conselheiros políticos do governo são frouxos e burros, o  governador deveria contrariá-los e fazer o que é certo. Poderia seguir o exemplo de Jorge Viana. Quando era prefeito, Jorge tirou centenas de barracas de comércio que estavam instaladas há mais de dez anos no lugar em que pretendia construir -e de fato construiu- o Terminal Urbano. E quando era governador, tirou outras centenas de barracas instaladas há décadas nos arredores do Mercado Velho, para transformá-lo em cartão postal da cidade. Não me lembro o que diziam seus assessores, naquelas ocasiões, mas não duvido que ele tenha enfrentado os temores e as descrenças de muitos. E não perdeu eleição por isso, deixou a Prefeitura e o governo com altos índices de aprovação e popularidade. Mas uma coisa é você ter um bom plano e fazer o que é preciso para executá-lo; outra coisa é você ter um bom emprego e fazer de tudo para não perdê-lo.

Tudo indica que o buraco vai continuar se aprofundando. E eu vou continuar falando, pois é só o que posso fazer.