Como alguém sempre atento às questões sociais (não à toa formei-me em sociologia), meus desejos para 2022 são voltados ao que é comum, coletivo:
1. Desejo que em 22 nosso Acre reencontre o caminho da prosperidade, fazendo boas escolhas. Que essas escolhas valorizem a política série e decente, política baseada na verdade e no interesse de todos, superando o jogo viciado dos mercadores de votos que manipulam as vontades das centenas de milhares de eleitores acreanos com baixa escolaridade e elevada disposição em negociar votos. Esse jogo tem retirado da política o poder de representar vontades legítimas e necessidades reais;
2. Que dessas escolhas faça parte a busca pela boa gestão pública. Sem elevada capacidade de planejamento, eficiência gerencial e profissionalismo na condução dos serviços públicos é impossível aos órgãos de Estado servir ao povo e cumprir seu papel no desenvolvimento regional. Executivo, legislativo e judiciário precisam atuar em favor das pessoas, das comunidades e dos interesses coletivos em geral. Para isso teriam que superar sua vocação atual de proteger ou reivindicar privilégios corporativos ou de castas setoriais e/ou profissionais;
3. Que nossos empresários e empreendedores em geral acordem para a realidade de um estado que não tem como abrir mão de ter no Governo o grande indutor do desenvolvimento, fomentando, articulando e integrando iniciativas públicas e privadas de investimentos produtivos capazes de aproveitar os potenciais econômicos de nossos recursos naturais, a força de trabalho do povo e o bom diálogo e alinhamento de nossas instituições. Que parem de fazer coro feito papagaios ao que dizem suas confederações nacionais, cujos olhos e interesses se concentram nos grandes estados, sem qualquer consideração sobre a especificidade de um estado pequeno e distante como o Acre. Que revejam seu neoliberalismo deslocado, seu desprezo pela Amazônia e calibrem sua visão à realidade de nossa região, dependente de investimento pública e do reconhecimento de sua vocação Amazônica;
4. Que as eleições sejam o palco de uma grande discussão sobre o Acre. Mas que seja debate sincero, baseado na verdade e na busca de respostas reais para problemas concretos. Que supere o jogo do ódio e da busca por bodes expiatórios que tanto caracterizou eleições recentes. Que ao invés de se concentrar no negativismo da rejeição a alguém possamos procurar os melhores líderes, aqueles mais preparados para conduzir o Estado a um futuro de bem estar, prosperidade, justiça social e harmonia. Líderes capazes de colocar interesses e vaidades pessoais em segundo plano; que não tenham como único desejo a vitória na eleição seguinte e sim que, antes disso, estejam mais comprometidos com boas políticas públicas em educação, saúde, segurança, produção econômica, geração de empregos, proteção às minorias vulneráveis e serviços públicos de qualidade;
5. Que nossa imprensa reencontre seus bons tempos de autonomia e liberdade editorial, e que publique e repercuta os fatos de real interesse público, evitando cair no jogo perigoso à democracia de fazer a vontade do governante de plantão. A Operação Ptolomeu tem mostrado que sites e portais outrora combativos hoje, por razões conhecidas, estão publicando "receitas de bolo" em suas páginas principais. É do conhecimento de todos a dificuldade que nossa mídia enfrenta para sobreviver sem os gordos repasses do governo do estado, da prefeitura de Rio Branco e da Assembleia Legislativa. Entretanto, sem jornalismo profissional e independente nenhuma sociedade faz crescer seu nível democrático, e sem democracia verdadeira não há desenvolvimento e prosperidade social.
6. Desejo que nossos servidores públicos atentem para o fato que seu grande propósito é servir ao povo, independente da vontade e do compromisso (ou da falta dele) dos governantes. Por isso são trabalhadores estáveis e permanentes. Os responsáveis pelos baixos salários e pelas péssimas condições de trabalho não são os cidadãos dependentes de seus serviços. Esses precisam e merecem ensino de qualidade, saúde humanizada, segurança pública que de fato os protejam e atenção e apoio na zona rural. Que o acesso aos recursos públicos via salários não seja mais importante que cuidar dos interesses sociais e promover o bem estar do povo.
7. Que o povo acreano acorde para o fato que Bolsonaro é um engodo e foi um erro histórico. Que finalmente perceba que o voto nele, em Gladson e em Márcio Bittar foi fruto de um momento de bobeira, de quando mais valia derrotar supostos inimigos que pensar no futuro. Que 2022 é o momento de corrigir erros e pensar em boas escolhas.
O fluxo dos acontecimentos faz acreditar que 22 será bem diferente de 2018, ano da última eleição geral. Sigamos acreditando que o tempo da crença na terra plana é no negacionismo à ciência está ficando para trás.
*Sociólogo acreano.