Em tempos de disputa narrativa, a verdade costuma ser a primeira vítima da propaganda. No Acre, o fenômeno tem ganhado contornos cada vez mais explícitos: parlamentares federais divulgam, com pompa e manchetes chamativas, ações e investimentos como se fossem gestores diretos do Estado. A questão que emerge, nesse cenário, vai além da retórica política — trata-se de um sério desvio na comunicação pública que confunde a população e compromete a transparência.
As chamadas em portais de notícias locais, recheadas de verbos como “entrega”, “destina” e “libera”, atribuem ao político o papel central da ação. Mas o que muitas vezes se omite é que esses recursos vêm do governo federal, apenas viabilizados por meio de emendas parlamentares — instrumentos legais, sim, mas que não transformam deputados e senadores em gestores públicos. A autoria da ação, nesse caso, é compartilhada: quem executa é o governo federal; o parlamentar somente intermedeia, em muitos casos, por obrigação institucional.
O problema não está na divulgação em si, mas na narrativa construída com intenções eleitoreiras. A apropriação simbólica do que é coletivo se transforma em capital político pessoal, especialmente em ano pré-eleitoral. Os recursos de mídia, por vezes pagos com dinheiro público, servem mais à promoção de nomes do que à informação do cidadão. Isso enfraquece a democracia ao ofuscar o papel de cada instância de poder e alimentar a falsa ideia de que tudo depende da “boa vontade” individual de um parlamentar.
Essa prática se distancia do princípio da honestidade intelectual e institucional. Quando um deputado anuncia como sua a liberação de verbas que fazem parte do orçamento da União, pactuado por diversos atores e aprovado pelo Congresso, ele não apenas desinforma — ele trai a confiança do eleitor. Em vez de fortalecer a cidadania, cria-se um jogo de vaidades, onde o serviço público vira vitrine de autopromoção.
O eleitor, muitas vezes sem tempo ou acesso para checar os bastidores dessas manchetes, acaba tomado pela ilusão de que certos políticos “trabalham mais”, quando na verdade apenas se comunicam melhor — ou investem mais em comunicação. E isso revela um problema maior: a política que se esconde atrás da aparência de eficiência.
É preciso resgatar o compromisso com a verdade. Não basta parecer atuante; é preciso ser transparente. A população acreana merece mais do que promessas embaladas em manchetes: merece informação clara, respeito à inteligência do eleitor e uma política que não transforme o serviço público em palco de estrelismo. Afinal, quando o mérito é coletivo, tentar tomar posse dele é, no mínimo, um ato de desonestidade institucional.
*Tácio Júnior é jornalista, pela Universidade Federal do Acre, acadêmico de sistemas para internet, pelo Instituto Federal do Acre, e assessor do vereador André Kamai.