Não fosse a pandemia que assola a humanidade e que já ceifou, somente no Brasil, mais de 70 mil vidas, já estaríamos na véspera das convenções partidárias para a escolha dos candidatos que concorrerão neste pleito municipal. Neste ano, porém, diante da situação pandêmica, a alternativa do TSE foi transferir a votação para os dias 15 e 29 de novembro, primeiro e segundo turno, respectivamente, por meio de uma PEC aprovada pelo Congresso Nacional. Há uma expectativa de que até lá a curva de contágio do coronavírus já esteja em declínio. No Brasil inteiro, serão eleitos cerca de 57 mil vereadores, distribuídos nos 5.570 municípios, bem como seus respectivos prefeitos e vice-prefeitos.
Um calendário eleitoral enxuto e as restrições e protocolos definidos pelas autoridades sanitárias farão dessa uma eleição atípica. Temo, no entanto, que seja vazia igual às anteriores quanto ao debate político e ao conteúdo programático. Temo que a tônica da campanha sejam ataques pessoais entre os candidatos e entre suas claques, arroubos populistas, promessas inexequíveis e pouca ou nenhuma manifestação de compromisso com o desenvolvimento da cidade e a com melhoria da qualidade de vida das pessoas que nela vivem.
Cruzeiro do Sul é uma cidade-polo da região do Juruá e geograficamente estratégica para a Amazônia. Tem um grande atrativo turístico, um capital natural diverso, um potencial para atividades econômicas florestais não madeireiras, uma terra fértil para plantios de banana, macaxeira, cana-de-açúcar e outras possibilidades ainda não exploradas. Além de uma riqueza cultural própria que, certamente, é importante num processo de desenvolvimento regional.
Por outro lado, há, também, como na maioria das cidades brasileiras, graves problemas estruturais, como deficit habitacional patente, redes de esgoto a céu aberto e ausência de coleta seletiva e destinação adequada do lixo, falta de planejamento e crescimento desordenado do espaço urbano, carência de assistência à produção rural e baixíssimos indicadores sociais e de desenvolvimento humano. Ante a todas essas adversidades, urge a necessidade de escolhermos gestores comprometidos com a superação desse atraso e com a busca de um encontro com o progresso.
A história nos mostra que não existem salvadores da pátria ou líderes messiânicos com soluções mágicas para os problemas. Qualquer discurso nesse sentido prova-se fraudulento. Mas, isso não nos impede de escolher o candidato tecnicamente mais preparado, de boa formação intelectual, com vida pregressa ilibada, e que tenha boas propostas para a cidade. Afinal, é na cidade onde a vida acontece.
Não tenho a pretensão de apontar um candidato perfeito e que seja a solução para todos os problemas da comunidade, tampouco pretendo criticar antecipadamente a candidatura de quem quer que seja. Porém, se quisermos, como munícipes, avançar para um outro patamar de evolução política e social, convém pensarmos, responsavelmente, sobre a escolha daqueles que cuidarão da nossa cidade, o lugar onde nós vivemos e buscamos, permanentemente, a felicidade – numa referência à pólis grega.
Precisamos, pelas vias democráticas, inviabilizar a progressão dos feudos familiares, quebrar a hegemonia de grupos políticos dominantes e romper com a cultura política patrimonialista. É preciso erradicarmos o assistencialismo como moeda de troca eleitoral e transformá-lo em políticas públicas que promovam a superação da miséria e, não, a perpetuação da dependência.
Num estágio mais avançado de compreensão cidadã e de consciência crítica, precisamos incrementar, no debate público local, temas e ideias como cidades sustentáveis, transparência plena dos gastos públicos, espaços de lazer para crianças e idosos, oportunidades para a juventude, inclusão social, investimento maciço na educação básica, apoio ao homem do campo e o constante uso do verbo cuidar. Cuidar da cidade, cuidar do patrimônio público, cuidar das pessoas. Afinal, o prefeito é aquele que cuida.
*Romisson Santos é professor.