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ARTIGOS

O que é essencial? A vida ou o funcionamento das igrejas?

O que é essencial? A vida ou o funcionamento das igrejas?

Em tempos de pandemia, um ou outro líder religioso tem se preocupado em manter as igrejas funcionando. Em alguns casos, a desculpa é a vida das pessoas, o cuidado com os membros e, claro – e como não dizer isso-, a desculpa de que as pessoas precisam da igreja para “estarem próximas de Deus nesses tempos difíceis”.

Nenhuma das justificativas está errada. Ao contrário, estão certíssimas. E se soar a história de que é preciso funcionar para arrecadar financeiramente, também estão corretos, afinal, o templo físico, a energia, o aluguel e os funcionários (quando há), também precisam ser pagos em dia.

A grande questão que me vem à cabeça é: se ambas as afirmações estão corretas, e devem ser consideradas, o que é essencial? A vida ou o funcionamento das igrejas? A Constituição Federal garante o funcionamento de toda e qualquer atividade religiosa, e isso nunca, jamais, foi impedido por qualquer decreto.

Agora, convenhamos, qual a necessidade de colocar em risco os membros das congregações que, em grande parte das igrejas, são idosos e pessoas com comobidades (diabetes, obesidade, hipertensão). Escrevo, mas o faço sem medo de ser critico pelo “grande público”.

A responsabilidade com o corpo físico, senhoras e senhores líderes, é bíblica. Ou estou errado? Jesus disse: "Eu vim para tenham vida, e a tenham com abundância" (Jo 10,10). Então, por que fazer tudo ao contrário, colocando em risco a saúde, o “templo do Espírito”, e ensejar a desobediência dos fiéis. Qual o objetivo disso? Arrecadar ou cuidar das pessoas?

Se a segunda opção for a reposta, nem precisa retomar os cultos. Afinal, o decreto governamental que sugere o isolamento social permite que as igrejas fiquem abertas 24 horas por dia e atendam, individualmente, os fiéis que a procuram em busca de oração, entregar ofertas e dízimos, ou a busca por um aconselhamento.

É justa a medida proposta e aprovada pelos deputados estaduais, mas ela não representa a obrigatoriedade de reabrir os templos e realizar cultos, muitos deles diários. Fará isso quem assim desejar, mas é bom deixar claro: que o fizer será responsável, ainda que indiretamente, pelo provável e possível aumento dos casos de contaminação do coronavírus.

Na minha opinião, “cultuar” online não atrapalha as igrejas, mas resguarda a saúde dos fiéis e continua ajudando as famílias, muitas delas já marcadas pela partida de um ente querido. Esse período é passageiros, assim como a peregrinação nesse plano terreno, como acreditam os cristãos.

No Acre, o governo sinaliza pela sanção do projeto de lei aprovado e que torna as atividades religiosas serviço essencial. Mas é como disse: cabe a cada líder a decisão de abrir ou não para cultos presenciais com ajuntamento de pessoas. E aos “irmãos”, depois não adiantará colocar nas costas do poder público as consequências da aglomeração.

E para encerrar, lembro: os líderes que estão pedindo essa reabertura há semanas. Desde o início aprendemos juntos que a prevenção é o melhor remédio para essa pandemia da Covid-19. Sem saber direito sobre os riscos, ficar em casa é a melhor pedida – se for possível. E por fim, pergunto aos fiéis: O que é essencial? A vida ou o funcionamento das igrejas?

*João Renato Jácome é jornalista, gestor esportivo e membro do Programa Internacional de Voluntariado das Nações Unidas e participa de redes pela Democracia, Esporte, Meio Ambiente e Direitos Humanos.