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ARTIGOS

O turismo de Power Point do Acre, o ecoturismo, também quer virar Agro

O turismo de Power Point do Acre, o ecoturismo, também quer virar Agro

Antes mesmo de falar em turismo, é preciso se colocar no ponto de vista como cidadão. Viver no Acre não é fácil, mas é prazeroso. Porém ainda sentimos falta de opções de lazer, coisas básicas que nos foram tomadas. Quando eu era criança, vinha ao Acre todo ano, mas morava em Rondônia e ali não tinha certos privilégios que aconteciam aqui. Rondônia sempre foi um polo de imigrantes, já chamado de Eldorado Brasileiro, vulgo Terra de Ninguém. O Acre tratava isso de forma diferente: havia o apego às famílias do bairro e ao pertencimento, tínhamos liberdade para jogar bola, andar nas praças, brincar nas ruas e ir ao Mira Shopping passear com amigos. Mal sabíamos que tudo aquilo em forma de lazer também era a liberdade que tanto queremos de volta.

O crescimento de prédios, condomínios verticais com opções de lazer, é fruto da restrição da liberdade de poder aproveitar a cidade sem o receio de assaltos. Nos reunimos em casa de amigos e familiares, comemos, brindamos para esquecer o que nos cerca fora dos muros, concertinas, cercas elétricas, alarmes e, para quem pode, segurança particular.

Ora bolas, depois de tantos anos de projetos políticos, só vemos mais distanciamento social! Ao ponto de isolar geograficamente as pessoas em bairros e, de lá, a grande massa da população precisa criar suas culturas e diversões: um churrasco de bisteca na grade com tijolo, ouvindo Barões da Pisadinha, clipe do Safadão no YouTube e uma caixa de som "from Cobija".

Até fizeram uma estrada para o Peru. É bonita, mas o dólar não está ajudando e quem ganha um salário mínimo não está pensando muito sobre isso, está querendo sobreviver até o mês que vem. O jeito é se virar pelo Acre, vamos para o Juruá, é bem ali. Só que não: viajar dentro do Acre é tão caro quanto ir para fora do país, a distância por estrada é quase igual à de Porto Velho e lá tem até o McDonald’s, que pode ser uma foto legal para o Instagram da garotada, uma aventura para contar na escola. Podemos tirar uma foto na ponte e, se tiver um pouco mais de orçamento, tem até o Cacoal Selva Park, piscina de ondas, chalés e serviço de comida e bebida. Às vezes tem até shows nacionais, tudo isso com a qualidade da iniciativa privada. E antes que critiquem os empresários do Acre por não terem essa sacada, o problema não é os empresários – aqui tem supermercados, lojas de construção e restaurantes que são infinitamente melhores que os do nosso estado vizinho.

Na semana passada tivemos a licitação da nova concessão Seringal Cachoeira, infelizmente fracassada, pois não houve interessados. O local precisa de reformas, reposicionamento. Eu já estive lá por diversas vezes, me hospedei. É um lugar muito agradável, mas parece não ser rentável para a comunidade e para os investidores. O Governo do Estado sabe que é preciso viabilidade para que as coisas continuem, um exemplo é o Seringal Bom Destino e o Quixadá, lugares bonitos e que fazem parte da história do Acre, mas sem público não tem show e as despesas de finanças públicas são boas enquanto dura o mandato. Parece que nós gostamos mesmo é de cruzar o país para pegar uma praia, quem não gosta? Então temos que trazer turistas estrangeiros e pessoas com recursos do Brasil, mas nossas melhores infraestruturas estão fechadas. Que imagem passaremos?

Parece até um pleonasmo, mas rodamos e sempre paramos no mesmo dilema: sem economia aquecida não existe turismo. Nem turismo interno, de pessoas que residem na região, e nem o turismo de pessoas que vêm do exterior, pois não existe infraestrutura aquecida para recebê-las.

Para ressaltar a importância do capital em uma cultura, eu sempre ressalto: mesmo com todos os anos de florestania empurrada goela abaixo, a maior festa do Acre continua sendo uma festa agropecuária, a tal da ExpoAcre, onde todos usam botas, visitam animais de grande porte e escutam os melhores artistas sertanejos do Brasil. Um dia espero que um governador reconheça também a importância do agronegócio para o Acre e mude o nome das principais avenidas para os produtores da terra, que possamos deixar de homenagear falsos heróis e reconhecer as belezas das plantações e criações de banana, macaxeira, café, gado, porco, carneiro, peixe, castanha e agora também milho e soja.

Mas eu creio que essa hora vem chegando aos poucos. Recentemente participei como suplente do Fórum de Desenvolvimento do Acre e fiquei feliz com o que escutei, mas não deixei de me posicionar. Uma das pessoas mais geniais em termos de captação de recursos para o Acre, o ex-secretário de Planejamento do Governo do Acre, Gilberto Siqueira, pediu a palavra e disse que uma das melhores opções agora seria o “agroturismo”. Assuero Veronez, presidente da Federação de Agricultura, e eu chegamos perto para escutar e Gilberto Siqueira continuou: “A turma do agro agora tem que abrir as fazendas, montar hotel-fazenda e consorciar com alimentação, hospedagem e entretenimento”. Algo como a Fazenda Três Meninas atualmente.

O agro rejeitado, marginalizado por anos, agora é cenário para as festas, fotos e como possível válvula de escape de esperança. Lembro-me que o presidente Lula, quando vinha ao Acre, gostava de ir descansar em fazendas. Nunca o vi curtindo um momento de lazer lá na Serra do Divisor, onde tinha a melhor carne do Brasil, a carne da pecuária acreana.

No final, o Power Point é bonito, mas quando o dinheiro público acaba, é o agronegócio e o tributo de muitos que pagam a conta. Agradecemos a sugestão, mas reafirmamos ao nobre Gilberto que precisamos primeiro triplicar a renda de cada cidadão acreano. Aí então ele vai investir no lazer da sua família, seja no Acre, Brasil ou no exterior.

Blairo Maggi disse, quando veio ao Acre: “Não se faz indústrias de processamento sem proteína vegetal em escala”, ou seja, não adianta fazer turismo sem infraestrutura e economia. Espero que logo algum fundo de investimento adote o Seringal Cachoeira. Estamos esperando algum benefício de indústrias que usam a imagem da Amazônia como a Natura faz 20 anos.

Rodrigo Pires - Empresário e fundador do Acre 2050