Sabe-se que a desigualdade social é uma chaga aberta na história do Brasil. A colonização de exploração e a escravidão de mais de três séculos foram eventos históricos deletérios que nos empurraram para o pântano repulsivo da miséria, do preconceito, da violência e de outros males que nos assolam desde há muito. Senão vejamos: somos o país emergente mais desigual do mundo; casos patentes de preconceitos nos envergonham todos os dias; e —pasmem!— temos 3% da população mundial e respondemos por 20% dos homicídios. Uma ignomínia.
Hodiernamente, todos nós, em alguma medida, conhecemos pessoas que ascenderam socialmente, para os mais variados patamares da pirâmide social, mesmo, em alguns casos, advindas do submundo da sociedade. E, quando essa mudança ocorre, ela é fruto, inegavelmente, de oportunidades criadas —políticas públicas. A sociologia clássica chama isso de mobilidade social vertical ascendente.
Em Cruzeiro do Sul, nesta gestão do prefeito Zequinha Lima, tem-se articulado, sob a liderança do vice-prefeito, Henrique Afonso, um amplo projeto chamado “Nova Vida”, que acolhe as pessoas em situação de rua e as reinsere na calha da civilidade e da dignidade humana.
Foram feitos levantamentos e acompanhamentos e foram firmadas parcerias com outras instituições públicas, casas terapêuticas, segmentos religiosos e diversos setores da sociedade civil como alternativa para a solução dessa problemática.
Estamos falando de mais de 50 pessoas —a maioria jovem— que foram marginalizadas, no sentido estrito da palavra, e que, com as quais, o poder público e a sociedade foram negligentes, dando, assim, azo para serem tragadas pelo infortúnio e se tornarem párias sociais.
O incômodo coletivo é patente e se justifica. Ora!, há um problema social grave nas ruas da cidade. Os transtornos geralmente são causados por pequenos delitos, furtos e roubos, notadamente em segmentos do comércio, ao entorno do Centro.
Mas é fato, também, que esse problema sempre foi visto, a partir dos últimos anos, de maneira aligeirada e superficial, como se entendêssemos que esse seria um problema apenas das grandes cidades. E, agora, o debate se aflora de maneira que não pode mais ser tangenciado —e nem deve.
O Projeto Nova Vida é um gesto político articulado que marca e que fica na história de Cruzeiro do Sul. Aliás, toda política pública bem desenhada e bem planejada dá frutos sociais significativos.
Já é possível vislumbrarmos o êxito dessa luta e o corolário será um legado de metamorfose social, de vidas transformadas. Porque tudo é uma questão de oportunidade.
Romisson Santos é professor e coordenador do Fórum de Educação Étnico-racial.