Quandou ouvi do meu saudoso amigo e ambientalista João Augusto Fortes que estava empenhado num projeto de reflorestamento em aldeias indígenas do Acre, achei estranho. Num primeiro momento pensei: "Qual o sentido de reflorestar a maior floresta tropical do planeta?"
Mas continuei o meu diálogo com o João que me pediu ajuda em algumas questões. Assim pouco a pouco fui entendendo a grandiosidade e a importância do Reflorestamento. Em primeiro lugar que a reconstituição de áreas degradadas da floresta podem ser uma garantia da sua preservação. Além disso, o reflorestamento deve ser visto também como uma atividade econômica.
As áreas reflorestadas têm um valor muito maior para negociações de crédito de carbono do que as de florestas virgens. Podendo dessa maneira significar uma fonte de renda para milhares de famílias de ribeirinhos, pequenos agricultores e indígenas da Amazônia.
Mas o ponto que me parece mais importante do reflorestamento é ocupar uma significativa mão de obra numa atividade sustentável. Pessoas que por sobrevivência estariam trabalhando em atividades que destroem a floresta ocupadas em regenerá-la para as futuras gerações.
Está mais do que provado que as queimadas que geram a intolerável fumaça que cobre atualmente a Amazônia têm origem em atividades produtivas que geram desmatamento. Isso tem afetado de maneira significativa os ciclos de chuva na região e consequentemente piorando as estações de seca a cada ano.
Esse ciclo destrutivo precisa ser quebrado. E a única maneira que eu entendo ser isso possível é ocupar mais trabalhadores em atividades sustentáveis. Não tem outro caminho. Ninguém quer ver a sua família passando fome.
Então os governos e instituições privadas nacionais e internacionais deveriam investir pesado na geração de empregos e renda para os moradores da floresta através de atividades produtivas que não destruam a floresta. Isso é possível? O reflorestamento é uma das respostas positivas para essa equação.
Outro ponto que me parece um grande equívoco é a ideolização da questão ambiental. A preservação da natureza não é uma pauta da esquerda ou da direita, mas sim uma necessidade básica para a preservação da vida humana no planeta.
Não é possível viver sem respirar um ar limpo de qualidade e ter acesso à água potável. Destruindo a floresta as nascentes hídricas secam por falta de chuva e a terra vai se tornando árida num processo de desertificação que levará irremediavelmente à extinção da vida.
A crise climática que o Brasil está atravessando é muito mais séria do que parece. E na minha opinião apenas ações governamentais são insuficientes para resolver o problema. É preciso que haja uma conscientização da população sobre a necessidade urgente de respeitar a natureza. Mesmo porque nós seres humanos somos a natureza. Então o que está acontecendo me parece uma insanidade coletiva de alguns setores da sociedade.
Uma pessoa está com sede e pede a Deus um copo de água. Mas ao mesmo tempo polui o igarapé que está ao lado de onde vive. Pede ar pra respirar e se refrescar, mas promove queimadas para poluir o ambiente a sua volta. Isso não tem lógica.
Essa consciência de que nós mesmos somos a natureza precisa se despertar. Ou então passaremos a vida desejando o céu depois da morte enquanto vivemos um aqui e agora infernal.