No Acre, convenciou-se chamar o interregno entre uma eleição e outra de “pré-campanha”. Como neste ano não houve eleição, trata-se, portanto, de um ano de… pré-campanha. Então, política é assunto que se fala em todo lugar, por todo mundo, o tempo todo.
Esses dias, em conversa com um militante político, ele me dizia que o partido X está aproveitando este período para fazer articulações e construir uma chapa forte de “candidatos a deputados federais”. Assim mesmo: tudo no plural.
E em período de campanha eleitoral, é natural que a língua portuguesa ganhe destaque na discussão pública. Slogans, jingles, discursos e textos oficiais circulam por todos os lados, e com eles surgem construções que nem sempre são corretas do ponto de vista gramatical. Um desses erros bastante recorrentes é a expressão “candidatos a deputados”, quando o adequado, pela norma culta, é dizer “candidatos a deputado”. A regra vale para federal e estadual.
À primeira vista, a forma no plural parece mais lógica, afinal, estamos falando de vários candidatos concorrendo ao cargo de deputado. Porém, a gramática explica por que o plural não se aplica nesse caso. Quando se usa o termo “candidato a”, o substantivo que vem depois indica o cargo pretendido, e cargo é sempre uma função única, independentemente da quantidade de pessoas que estejam concorrendo e da quantidade de vagas a serem ocupadas. Assim, cada pessoa é candidata a um cargo específico, e não a vários cargos ao mesmo tempo. Por isso, mantém-se o substantivo no singular.
A construção é a mesma em diversos outros casos: falamos em “candidatos a prefeito”, e não “candidatos a prefeitos”; “candidatos a senador”, e não “candidatos a senadores”; “candidatos a vereador”, e assim por diante. O que varia é apenas o número de candidatos — não o cargo. Perceba que, no caso de senador, a cada quatro anos, vota-se, alternadamente, em um e dois senadores. Muda a quantidade de vagas, mas cada candidato concorre apenas a uma cadeira.
Além disso, preservar o singular contribui para a clareza e a precisão linguísticas, valores importantes especialmente em ambientes como a política, onde a comunicação deve ser fluida e objetiva. A repetição do erro, entretanto, mostra que, no dia a dia, muitas pessoas deixam de observar esse detalhe. O resultado é que construções como “candidatos a deputados” acabam se naturalizando na oralidade popular, embora estejam em desacordo com a norma gramatical.
Não se trata de preciosismo. A escolha correta reforça a ideia de que o domínio da língua é parte essencial da cidadania e da participação política. Quando compreendemos por que determinada estrutura é correta, fortalecemos não apenas a comunicação, mas também o senso crítico, indispensável para qualificar o debate público.
Portanto, da próxima vez que a expressão aparecer em uma conversa, uma propaganda eleitoral ou até mesmo quando o animador do palanque chamar para discursar os candidatos do partido Y, vale lembrar: o certo é “candidatos a deputado”. Apenas um detalhe, mas que demonstra cuidado com a língua e respeito ao público que recebe a mensagem.
Romisson Santos é professor e cronista.
