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ARTIGOS

Turismo de lazer no Acre

Turismo de lazer no Acre

O assunto vem de bubuia novamente, montado nos balseiros do Rio Acre.

É o único ponto que todos os acreanos concordam, independentemente de religião, partido político e time de futebol: "Nossa, como é lindo, que bom se fosse sempre assim!" Antes que sejam repreendidos, logo emendam: "...se não fossem os desabrigados".

Obviamente, se fosse "sempre assim" não haveria os desabrigados nos moldes de hoje, porque a água abundante e espraiada teria dominado de vez as atuais regiões, não permitindo que ali se edificassem casas ou fincassem barracos.

É o diabo do politicamente correto.

Após um congestionamento incomum, para um domingo à tarde, conseguimos dar uma volta na Gameleira, para ver o Rio Acre, em toda a sua majestade. Lugar para estacionar e ficar um pouco não existia. 

É fácil entender o êxtase dos turistas de Gameleira, porque não temos nada de bonito aqui no Acre, a ponto de atrair turistas de fora, de outros estados e países.

Nada. Absolutamente nada.

Até o nosso Rio Acre, se fosse uma pessoa, viveria no divã do psicanalista. Às vezes se orgulha por jogar água para fora, outra se deprime por quase morrer de sede. No verão, então, quando, mais se precisa dele está sempre em estado "crítico", dizem os especialistas e sabemos nós. 

É um rio feio. Não há água limpa, cachoeiras e nem é perene. Todos os rios do Acre são feios. O Juruá, que recebe  tributo do Moa, se destaca um pouquinho, mas de beleza nada atraente para os de fora colocarem a mão no bolso para visitá-los.

A nossa montanha mais alta não passa de um morrinho de formiga. A icônica Serra do Divisor é quase uma piada. Varia de 200 a 600 metros de altitude. Basta passar a ponte do Rio Madeira para começar aparecer morros mais imponentes. 

Lá pelas bandas do Juruá existe ainda a nossa cachoeira mais famosa, a do Ar Condicionado, quase sempre pifada, sem água. Se alguém disser que a Ar Condicionado é a nossa maior queda d'água, lá pelas bandas de Presidente Figueiredo, município perto de Manaus, vai pagar mico.

A nossa floresta também não tem nenhuma beleza diferente, capaz de atrair alguém para abraçá-la. É igual ou até mais feia que a do Amazonas, com seus grandes rios, e a de Puerto Maldonado, no Peru, banhada pelo Madre de Dios e o Tambopata, perto de Cusco, embora seja parte da mesma Amazônia.

No intuito de superar estas dificuldades todas soltaram os dinossauros. Agora a coisa vai. O turismo de lazer no Acre terá um atrativo. Vai valer à pena.

Não vingou, graças a Deus. 

Uma semana após fincarem os dinos de plástico na margem da BR 364 o oco do bicho viraria uma boca de fumo.  Duas semanas após estariam  cravejados de balas, como as placas de sinalização de trânsito. Três semanas depois os dentes do Mapinguari seriam arrancados para rachar lenha ou destino mais ainda mais humilhante. Ao final de um mês, já sem os olhos e o rabo, o turista que por ali passasse sairia carregando-o nas costas, rumo ao Pronto Socorro da Capital.

Então, não dá. Turismo de lazer ou de negócio no Acre nunca existiu, não existe e jamais existirá. Não adianta teimar. Não dá para investir em nada, pensando no turismo. 

É verdade que algumas pessoas vem ao Acre, para se encontrar com os indígenas, para conhecer Xapuri, para alguma reunião de negócios, visitar amigos e parentes, mas isso é muito pouco, não compensa nenhum investimento. Nenhuma política pública será capaz de mudar esta realidade. Temos que abandonar esta ideia e partir para outra.

O futuro do Acre é mesmo o agronegócio e a cobrança de royalties pela floresta intacta, se os hipócritas europeus realmente tem interesse em preservar o meio ambiente, para compensar o desmatamento que causaram ao longo dos anos e pela utilização de energia suja.

Anos atrás, vindo de Xapuri para a Capital, encontramos um carro com placa do Peru indo embora. E ia em alta velocidade. 

Contentemo-nos com a Gameleira. Mar a gente não tem também. Ninguém vai gastar R$ 3.000,00 de passagem aérea de Brasília ou São Paulo, mais diárias de hotel, para ver rio feio, monte de formiga, floresta que se vê em qualquer outro lugar com outros atrativos, ou, para socorrer dinossauros.

É claro que sempre há alguém liso que ache tudo isso lindo, mas aí depende da qualidade e não gera renda.

Extingam todos os órgãos públicos voltados para o turismo que a economia vale mais à pena.

Agora, que é bom viver aqui é mesmo. Bonito mesmo só o povo.