Na casa antiga, onde mora minha mãe, sombras e lembranças se entrelaçam. Repouso no sofá, refúgio que o acaso me deu após um dia que se desvanece em suspiros. Os sapatos, que percorreram um caminho de deveres, ainda me prendem. Mas aqui, sob o teto e as paredes de madeira, sinto-me livre.
O terno e a gravata, que muitos pensam serem armaduras de uma batalha diária, são apenas uniforme de trabalho. Pesam sobre o peito que se enche de um cansaço antigo. Advogado, sim, mas agora apenas um homem em reflexão, buscando nas tramas do silêncio o que é o sucesso verdadeiro.
O sucesso, essa miragem que tantos perseguem em vão, aqui se desfaz em pensamentos. Na quietude desta casa, questiono o valor das conquistas e encontro a vitória na serenidade do fracasso.
Luiz, meu companheirinho de quatro patas, corre para lá e para cá com os brinquedos que ganhou de minha mãe, desconhecendo o peso das escolhas e das expectativas. Mafalda, também de quatro patas, antiga companheira, sonha ao meu lado.
Enquanto o sono se aproxima, como algo suave, deixo-me levar por caminhos que se criam entre sonhos e memórias. Um estalo na madeira!, o aroma de café e o som distante de automóveis, tudo se funde e me leva em direção ao descanso.
Aqui, neste sofá, o sucesso se redefine: me apropriei dele e de seu significado. Sim... Sucesso, dentre as coisas que estão no meu controle, é aquilo que quis, busquei e consegui. Não tem relação com o que mais ninguém pensa.
E na espuma macia coberta por tecido acolhedor, tento não me render ao sono. Acho que vou fracassar, difícil que é resistir ao abraço de um lar que conhece o verdadeiro sentido dos meus desejos.
André Fabris
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