Caminho entre as prateleiras de um supermercado, não diferente de qualquer outro que você já tenha ido. As luzes brancas e frias iluminam mais do que deveriam, revelando cada detalhe das embalagens coloridas que gritam por atenção. Mas, apesar do burburinho constante, sinto-me em silêncio, alheio à música ambiente que se mistura com as conversas dos clientes e, ocasionalmente, à voz do funcionário que anuncia ofertas pelo microfone.
Aqui, entre o cheiro de pão francês fresco e o passar apressado dos carrinhos, caminho alheado, distante das trivialidades que preenchem o espaço. Não é uma solidão que me acompanha; é uma escolha de estar à parte, de observar a vida como quem assiste a um espetáculo sem participar dele.
As pessoas adoram viajar, mas esquecem que, onde quer que estejam, carregam consigo elas mesmas. No fundo, somos todos ilhas, tentando enviar mensagens em garrafas através do oceano do existir. E talvez, apenas talvez, em algum momento, nossas mensagens se encontrem e possamos nos sentir, por um breve instante, um pouco menos sós.
Lançamos nossas mensagens ao mundo, como em garrafas ao mar – tweets curtos, posts, esperando por likes, por algum sinal de que não estamos sós. Mas, mesmo que esses sinais venham, eles são efêmeros e superficiais. Não há conexão profunda, não há grandes momentos de atenção das pessoas que visualizam.
Saio do supermercado, as sacolas nas mãos não mais pesadas que o alheamento que carrego. No silêncio de minha própria companhia, reconheço que, mesmo cercado, estou só. E nesta solidão escolhida, encontro em um eco distante a liberdade de ser ilha em um mar de vozes sem rosto.
André Fabris - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.