Aeroporto de Guarulhos, labirinto de luzes e ruídos. Vozes que se perdem na vastidão, sons de passos sem destino. Pati e eu, perdidos nesse mar de gente, avançávamos em silêncio, ilhados em nossos pensamentos e diálogos.
A claridade artificial, fria e impessoal, tingia os rostos de uma palidez espectral. As cores vibrantes dos painéis e vitrines, um espetáculo vazio que não nos tocava.
As malas seguiram seu caminho, tragadas pela esteira indiferente, que cantava a canção do destino, o eterno ir e vir sem propósito. O cansaço pesava sobre nós, lastro de dias e noites inquietos.
Teimosa em sua busca, Pati insistia em encontrar a pasta perdida, símbolo de algo mais, talvez. Perdida como eu, talvez.
Carregando bagagens, atravessamos a imensidão do terminal, cheio de corredores e passagens. Áreas das companhias aéreas, praças de alimentação, lojas reluzentes, tudo se confundia em um turbilhão de imagens fugazes. As esteiras rolantes, em seu movimento incessante, pareciam nos levar para um destino incerto.
Subimos pelos acessos dos funcionários, buscando atalhos, como se buscássemos também atalhos para as nossas próprias vidas. O elevador, lento e silencioso, acentuava a nossa ansiedade, a pressa de chegar a um lugar que talvez não existisse. Escadas e corredores, um labirinto que refletia a nossa própria confusão interior. Nossos passos ecoavam na penumbra, enquanto o rumor do mundo lá fora se desvanecia, como um sonho distante.
A sala dos Achados e Perdidos, um cubículo exíguo, com paredes nuas, desprovidas de qualquer adorno, como a alma de um burocrata. Uma porta lateral, única via de acesso a um mundo desconhecido, guardada por uma funcionária de olhar vago.
Pati, inquieta mas contida, expunha o seu caso, as palavras se perdendo no silêncio da sala. Eu observava, resignado, a atendente desaparecer por detrás da porta, como se adentrasse os meandros da burocracia. Nessas horas, lembro que os enfeites do nosso mundo são apenas uma questão comercial.
A pasta, reaparecida como um milagre, despertou um pranto contido em minha companheira, lágrimas que rolavam como pérolas num mar de emoções. Agradeceu à atendente com palavras que transbordavam de alívio, a voz embargada pela comoção.
As lágrimas, reflexos da sua alma sensível, cintilavam sob a luz da "repartição", enquanto a voz serena preenchia o silêncio com a melodia da alegria reencontrada. O celular, pequeno aparelho que conecta e afasta, tornou-se o arauto da boa nova, transmitindo a alegria às irmãs distantes.
Observei seus olhos brilhantes, a face serena. Naquele rosto, vislumbrei a força do espírito, a teimosia da esperança que se agarra à vida.
Sim, a pasta era apenas um objeto, um receptáculo de papéis e responsabilidades. Mas sua recuperação, em um momento de incerteza e cansaço, transcendia seu valor material. Era um símbolo, uma metáfora daquilo que realmente importa: a nossa ligação aos outros, os laços invisíveis que nos unem, os compromissos que tecemos na teia da vida.
A verdadeira riqueza reside, mesmo, nos momentos partilhados, nas emoções vividas, no peso das responsabilidades que carregamos com amor e dedicação.
André Fabris, advogado e cronista no Rio Grande do Sul.
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