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Baixaria - com Cesário Braga

Terras raras na Amazônia: O tesouro invisível da nova economia

Terras raras na Amazônia: O tesouro invisível da nova economia

A próxima grande corrida global não é apenas por petróleo, alimentos ou energia — é pela posse e controle das terras raras, um grupo de 17 minerais essenciais à economia moderna. Esses elementos estão nas baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, celulares, satélites, semicondutores e sistemas de defesa. Quem dominar as terras raras dominará a economia do século XXI.

Na minha opinião, o Brasil ainda não compreendeu o valor estratégico das terras raras, e a Amazônia precisa ser vista como uma das chaves para o protagonismo nacional nessa nova economia mineral e tecnológica.

A disputa já está em curso. A China controla cerca de 70% da produção mundial e mais de 90% da capacidade de refino. Os Estados Unidos, durante o governo Trump, passaram a tratar o assunto como questão de segurança nacional. Hoje, a guerra “fria” — ou comercial — entre Washington e Pequim não é sobre balança comercial, mas sobre tecnologia e soberania sobre os minerais que movem essa tecnologia.

Nesse tabuleiro, o Brasil é uma potência inoperante. O país possui cerca de 17% das reservas dessas terras, o que o coloca entre os maiores do mundo. E a Amazônia concentra aproximadamente 30% dos minerais estratégicos brasileiros, tornando-se um território decisivo para o futuro da economia e tecnológica.

A experiência da China mostra o caminho: o país tornou-se líder global ao controlar não apenas a extração, mas também o processamento e a tecnologia. Transformar a Amazônia em uma plataforma de valor agregado, unindo mineração, pesquisa científica e industrialização, deve ser o objetivo estratégico do Brasil.

Porém, isso exige planejamento público, incentivos para pesquisa e tecnologia e, sobretudo, participação social. É fundamental que o Estado brasileiro lidere o processo — não apenas licencie, mas planeje, regule e garanta que o benefício permaneça no território.

A Amazônia deve ser o laboratório desse novo modelo. Com universidades, institutos federais e centros de pesquisa, a região tem condições de formar técnicos e pesquisadores, atrair investimentos, gerar empregos qualificados e modernizar a infraestrutura urbana das cidades. A geopolítica mundial está mudando, e a Amazônia precisa decidir se continuará exportando riqueza e importando pobreza, ou se assumirá o comando da nova economia mineral e tecnológica.

O Acre, mesmo não sendo uma área de exploração direta, tem papel importante nesse contexto. Está estrategicamente posicionado como porta de integração logística. A ferrovia transoceânica — obra que ligará o Brasil ao Pacífico pelo Porto de Chancay, no Peru — transformará o estado em um corredor natural entre as reservas minerais da Amazônia Ocidental e os mercados asiáticos. Essa rota encurtará em milhares de quilômetros o caminho até a Ásia, principal destino das terras raras e epicentro da produção tecnológica global.

Em vez de mandar minério bruto para longe, o desafio é industrializar parte dessa riqueza aqui mesmo, com plantas de refino, polos tecnológicos e cadeias produtivas integradas.

As terras raras são o petróleo do século XXI, e o Brasil — especialmente a Amazônia — pode ser o campo estratégico dessa revolução. Integradas à ferrovia e ao corredor logístico até o Pacífico, elas podem impulsionar um ciclo de desenvolvimento capaz de unir energia, tecnologia e soberania nacional.

O desafio está posto: transformar o subsolo em conhecimento, a riqueza mineral em indústria e a Amazônia em protagonista do futuro.

Nos próximos artigos, será abordado o terceiro eixo dessa década decisiva: a ferrovia transoceânica, a espinha dorsal da integração entre Brasil e Pacífico — e o caminho para que o Acre e toda a Amazônia deixem de ser fronteira distante e se tornem centro estratégico do desenvolvimento brasileiro.