Mesmo em meio a uma pandemia, o mundo político/partidário se movimenta e transforma os primeiros sete meses de 2020 em um dos mais inusitados da história política local
O período pré-eleitoral em Rio Branco vive alheio ao isolamento. Mesmo em meio a uma pandemia, o mundo político/partidário se movimenta e transforma os primeiros sete meses de 2020 em um dos mais inusitados da história política local.
Isso se deve a um conjunto de acontecimentos inesperados. Golpes, filiações inimagináveis, alianças improváveis e até choro e desespero ao vivo pela internet, o meio que virou a ferramenta de comunicação que revela em tempo real os variados acontecimentos, dos mais interessantes aos episódios toscos.
O Blog da Hora, do NH, separou alguns acontecimentos que merecem destaque e que, portanto, classificamos de top five. Veja abaixo:
1- El, El, El já era Luziel...
Luziel é o que podemos chamar de um sujeito que "nasceu de sete meses". Apressado. Fez jingle de campanha antes do tempo, instalou outdoors, gravou vídeos, mas seu sonho de virar candidato virou pesadelo nesta segunda-feira (13).
O Solidariedade, que é solidário só no nome, tirou o advogado do páreo. Ao receber a notícia oficial por meio de nota que não seria mais pré-candidato à prefeitura de Rio Branco, Luziel foi ao desespero e chorou em uma live na frente da sede do partido. O advogado acha que seu nome foi excluído do pleito porque ele é "negro e pobre".
"Retiraram a minha candidatura, tentaram matar meu sonho. Isso porque eu sou negro, pobre e represento a população menos favorecida. Mas eu acredito em Deus e eu sei que o poder de Deus é maior em minha vida. Há quantos anos o Brasil aboliu o racismo e hoje pela minha cor, pelo fato de eu não ser de uma família abastada, por eu não fazer parte de uma família tradicional da política estão me negando o direito de concorrer", disse ele aos gritos desesperado.
Para completar o protesto, Luziel Carvalho disse que vai acampar na sede do Solidariedade, em Rio Branco, e só vai sair depois que um interventor nacional explicar por que seu nome foi excluído da disputa majoritária.
2- Rio Branco lança tendência liberal-tucana
Voltemos no tempo. No final de junho quando veio à tona a notícia de que o vice-governador Major Rocha deixaria o PSDB para se filiar ao PSL houve um verdadeiro abalo nas estruturas liberais.
Reuniões e mais reuniões, promessas de rebeliões e desfiliações, abaixo-assinado, declarações de repúdio. A impressão que se tinha era de que Pedro Valério e seus seguidores enfrentariam o militar, mas bastou a presença no Acre do vice-presidente nacional do partido, Junior Bozella, para esfriar os ânimos.
De uma para outra, Rocha virou um ilustre liberal. O vice-governador se filiou ao partido e uniu PSDB e PSL.
Os dois partidos são, no momento, a sustentação da pré-candidatura de Minoru Kinpara.
Os liberais, que chegaram a ter o pecuarista Fernando Zamora como pré-candidato (que se desfiliou por causa de Rocha), agora esperam indicar o vice de Minoru, sim o pré-candidato tucano que até pouco tempo era espraguejado e chamado por eles de comunista.
Na sede do PSDB durante um encontro em que o PSL foi recepcionado para a oficialização de uma aliança, o presidente do Partido Social Liberal, Pedro Valério, assim descreveu o desfecho envolvendo Major Rocha e o PSL: "Esse episódio [envolvendo Major Rocha] já esta superado dentro do partido. O PSL se sente prestigiado com um ilustre filiado como o vice-governador."
3- Gladson declara apoio à prefeita Socorro Neri
O PP, partido do governador Gladson Cameli tem um pré-candidato à prefeitura de Rio Branco. É o professor Tião Bocalom. Porém, o maior padrinho da candidatura de Bocalom não é o chefe do Palácio Rio Branco, mas sim o senador Sérgio Petecão, que é de outra sigla, o PSD.
Insatisfeito por não ter sido consultado por seus colegas progressistas na indicação de Bocalom, Gladson Cameli resolveu declarar publicamente à perfeita Socorro Neri que ela é sua candidata à reeleição. Neri é do PSB, o Partido Socialista Brasileiro.
Teoricamente, no papel, PSB e PP tem seus paradoxos. O partido da prefeita é declaradamente de esquerda. O do governador é de direita. Isso em tese. No fundo, a ideologia dos partidos é o poder.
Seria inimaginável ver Cameli declarando apoio à prefeita meses atrás.
Socorro Neri era vice do petista Marcus Alexandre até abril de 2018. O então prefeito deixou o Executivo municipal para ser candidato ao governo e Socorro assumiu. Marcus foi derrotado por Gladson naquele ano.
Neri passou a pôr na gestão pessoas de sua confiança à medida que ia exonerando petistas, que agora são ex-aliados. Ao passo que foi se distanciando do PT, a prefeita se aproximou de Petecão, que chegou a falar, ainda em 2019, em apoiar a reeleição da prefeita. O senador desistiu da ideia. Agora está com Bocalom. Em 2020, o novo aliado de Neri, pelo menos por enquanto, é Gladson.
4- As viúvas do poder: Jorge dando lição de moral e o PT sozinho na disputa
Desde que foi derrotado nas eleições de 2018, Jorge Viana passou a culpar a Deus e o mundo pela derrota.
A cada declaração fala como uma viúva do poder. Vive a lamentar. Se apresenta como o único ser capaz de salvar o Acre e agora critica Socorro Neri, por coincidência depois que a prefeita exonerou todos os seus indicados da prefeitura.
O PT com seus bons quadros, e Jorge é um deles, apesar de sua mania narcísica, apresentou o deputado estadual Daniel Zen como pré-candidato a prefeito da capital, mas deve experimentar, após duas décadas, uma espécie de desprezo e isolamento.
Sem cargos para oferecer e sem dinheiro para bancar megas estruturas de campanha, o Partido dos Trabalhadores vai sentir pela primeira vez, após duas décadas, o que é ir para uma campanha sem a estrutura estatal nas mãos.
Não vai ter dinheiro sequer para pagar o ônibus...
5- Confusão no Palácio
Gladson e Rocha devem ter candidatos distintos em Rio Branco.
A fragmentação política no Palácio, que é visível, deve ser uma das marcas principais no pleito municipal e, provavelmente, resulte em um racha definitivo entre governador e vice e alguns outros grupos que circundam o centro do poder no Acre.
As redes sociais, grupos de WhatsApp e rodas políticas são a evidência de um projeto completamente fragmentado e de propósitos e interesses completamente diferentes.
As definições de "balaio de gatos" foram atualizadas...