O cristianismo institucional cravou na memória de seus milhões de adeptos a cultura da dependência do templo. É como se a estrutura física fosse um condutor de divindade. Porém, reunião ao redor do divino jamais foi uma prática estática, engessada, dependente de estruturas com CNPJ, restrita a grupos com endereços fixos, casas, tabernáculos, tendas.
Foi o próprio Jesus nos evangelhos que afirmou que "onde estiverem dois ou três reunidos eu seu nome ali Ele se faria presente". Uma afirmação frustrante para aqueles que acham que possuem o controle da vida espiritual dos outros.
Esse mesmo Jesus em um diálogo com uma mulher samaritana, conforme registra o evangelho de João no capítulo 4, lembra que "os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade". O ato de cultuar é individual.
Mais adiante, o apóstolo Paulo escreve: "Vós sois o templo do espírito". Não há aqui cimento, estrutura metálica ou argamassa.
Em Atos dos Apóstolos, Estevão, um diácono fervoroso, avisa, momentos antes de morrer apedrejado por mãos religiosas do templo, que "o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos humanas".
Ainda em Atos, mais adiante, no capítulo 17, Paulo, o apóstolo, outra vez reforça:
“O Deus que fez o mundo e tudo que o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas”.
Já o escritor da epístola aos Hebreus, no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, reforça que a prática de congregar, o mesmo que reunião, não deve ser esquecida. Uma referência a um momento solene de cânticos e orações entre amigos e familiares.
Judeu exemplar, Cristo, o Messias, frequentava as sinagogas e ia ao templo quando estava em Jerusalém. Aos 12 anos, acompanhado de seus pais, Ele impressionou doutores no templo.
Em seus três anos de missão, a partir dos 30, Jesus cumpriu seu ministério fora das quatro paredes. Viveu no deserto, nas ruas e becos das cidades pregando. Aliás, lembremos que Ele mesmo disse que não tinha onde reclinar a cabeça. Mais uma citação do Messias que é um verdadeiro martelo na cabeça da galera que se acha dona dos "chamados para fora".
A cultura do congregar em um tabernáculo surgiu bem antes de Jesus, ainda com Moisés no deserto, por meio de uma estrutura móvel a mando de Jeová.
O povo hebreu foi nômade em grande parte de sua história. Cultuar e oferecer sacrifícios a Iavé, portanto, era uma prática em família antes do surgimento do tabernáculo e depois com a fundação do primeiro templo de Israel.
Ser membro de uma denominação religiosa, seja ela espírita de qualquer linha, evangélica, católica, ou qualquer outro meio pelo qual você se sinta bem, é importante? Sim, pode ser, se te faz bem, e se for lá o lugar em que você encontra sentido para alguma coisa, boas amizades, bons conselhos, pois é vida. Porém, não é necessariamente essencial. Pode até ser fundamental. Essencial é você, que é um santuário, uma morada, um templo. Sim, você que sente dores, alegrias, tristezas e regozijos. Você, sim, é essencial. O templo de cimento, não.