O isolamento social deu e dá certo, mas se limita ao tempo, ao calendário. Não fossem as regras estabelecidas pelo Estado e Municípios, o Acre estaria chorando muito mais mortos e as unidades de saúde vivenciando o insuportável, um caos que nem dezenas de hospitais de campanha suportariam.
Mas confinar tem seus limites, por isso é vencido.
E vai além da necessidade econômica, da loja aberta, do negócio, da igreja, da prática esportiva necessária, da corridinha no parque.
Nenhum ser humano suportaria o "fique em casa" por 100 dias sem reclamar por sua liberdade. Não são raros os questionamentos carregados de aflição do tipo "até quando isso vai durar?".
Há um conjunto enorme de complexidades. Um combo de coisas em jogo. São pais e filhos que ficaram muito tempo sem se ver, amigos e namorados se permitindo distanciamento vivendo no mesmo bairro, na mesma cidade.
Não à toa a violência doméstica explodiu, as cicatrizes reabriram, as doenças da alma ressurgiram em alguns e sugiram em outros.
O conjunto de coisas que conjuga necessidades, vontades e desejos vence e ultrapassa a linha imaginária do confinamento ainda que o sujeito saiba que lá fora há um inimigo invisível que pode apenas ser evitado.
Multinacionais já anunciaram vacinas contra o vírus. Mas há um protocolo rígido, tempo de teste, resultados. O processo todo, a contar do início dos testes, é demorado levando em consideração a urgência das coisas.
Até a primeira campanha de vacinação as pessoas vão continuar quebrando normas e regras, ainda que correndo riscos, não por rebeldia contra governos, mas por conta de um caráter natural que é anterior a concepções de contrato social, Estado e sociedade.
E o bloqueio total? Qualquer brasileiro defensor do lockdown provavelmente foi afetado por algum efeito manada sobre o tema, desconhece o país em que mora ou dispõe de um bom conforto de primeiro mundo. Em Rio Branco, por exemplo, é impossível um bloqueio. Vá a periferia e entenda o porquê da enorme complexidade em manter um confinamento. Pessoas com condições precárias de moradia, mulheres com 10 filhos em um casebre.
O Estado, que não tem condição de decretar bloqueio e fiscalizar seu cumprimento, seria ainda mais desmoralizado caso tomasse tal medida.