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Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca

A China bem ai! - Meio bilhão de reais é o investimento inicial para consolidação da rota Quadrante Rondon que liga o Acre ao Pacífico

A China bem ai! - Meio bilhão de reais é o investimento inicial para consolidação da rota Quadrante Rondon que liga o Acre ao Pacífico

A partir do mês de novembro deste ano, fazer um “negócio da China” não será muito difícil, a inauguração do Porto de Chancay, no Peru, deixa o Acre em posição estratégica como porta de entrada e saída de produtos principalmente da Ásia, de onde a China é principal compradora.

A oportunidade se transformou em papo de cafezinho.
A rota tem sido pauta de grandes jornais na imprensa nacional desde que a ministra do planejamento e orçamento Brasil, Simone Tebet, passou a vendê-la com imagem futurista e desbravadora.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Daniel Rittner da CNM, Tebet citou como exemplo a azeitona que chega ao estado de Rondônia, que está há 2 mil quilômetros do Peru. O produto sai de navio, passa pelo canal do Panamá, atraca no porto de Santos e percorre 3 mil quilômetros de estrada até chegar em Rondônia. Pelo Quadrante Rondon essa viagem encurta em até 20 dias.

Pelo Acre, temos como exemplo a Truta Salmonada que sai de Puno, vai para o Chile, depois São Paulo e anda mais de 4 mil quilômetros até chegar aos nossos supermercados. Pelo corredor interoceânico essa viagem dura no máximo 72 horas.

Encurtar caminhos, integrar comércios, diminuir a pobreza, a desigualdade social dos estados mais pobres localizados na região norte é a grande meta do governo federal. A rota foi apresentada pela ministra no “Seminário Empresarial Brasil-China: os próximos 50 anos” no início de junho.

Pena que empresários acreanos não estejam na mesma conectividade ou pensando na mesma velocidade que o governo brasileiro e, por que não dizer, os chineses. Mesmo com um corredor pronto – a rota Quadrante Rondon – necessitando de alguns ajustes, a cultura exportadora ainda é um grande gargalo.

Talvez porque o tempo passe e alguns setores continuem paralisados diante de velhos desafios que se conhece há décadas. Como exemplo, temos as dificuldades aduaneiras e a não conclusão até hoje do projeto de integração com aviação regional. O investidor pode estar correto ao observar um discurso político de desenvolvimento e futurismo, sem que, na prática, se esteja fazendo o dever de casa. A integração Sul-Americana foi lançada no governo de Fernando Henrique.

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Para a consolidação inicial da Rota Quadrante Rondon que corta os estados do Acre e Rondônia e porção oeste do Mato Grosso, se faz necessários vultosos investimentos, estimados no mínimo em meio bilhão de reais. Os números são do Ministério de Planejamento e Orçamento Brasil.

O anel viário de Brasileia, a conclusão de duas pontes na BR 245 e a ponte de Guajará-Mirim, em Rondônia, estão no radar do que é necessário à rota, através do Novo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Exatamente o PAC que entre obras paradas e não concluídas tem 43% inseridas no novo formato do programa, no governo Lula III.

Outro fator além das obras de engenharia muito mais urgente são as intervenções que envolvem questões aduaneiras, como a preparação ou modernização de postos da Receita Federal e da Vigilância Sanitária a fim de agilizar o desembaraço de mercadorias e a travessia de cidadãos.

O governo do estado tem se antecipado institucionalmente nesse debate promovendo com os poucos recursos disponíveis e o apoio da Assembleia Legislativa, o corredor que passa por nossas divisas.

Chave na implementação da rota que liga o Norte brasileiro aos portos do Peru, o Acre é o único estado do Brasil que atravessa apenas um país (Peru) para chegar ao Pacífico. Assis Brasil está localizada a 3.800 quilômetros do Porto de Santos (SP), a 1.800 quilômetros do porto de Chancay, no Peru, e a menos de 1.200 quilômetros dos portos de Ilo e Matarani, também no Peru.

Em 2023, 22% das vendas do Estado saíram do país por Assis Brasil. O Ministério do Planejamento prevê que nos próximos anos, o Acre pode se beneficiar de caminhos alternativos para as exportações intrarregionais e aquelas destinadas aos mercados da Ásia.

Nesse diapasão, a Câmara Técnica do Comércio Exterior, instituição vinculada ao Fórum Empresarial de Inovação da Federação das Indústrias do Estado do Acre tem se desdobrado, realizando prospecções de negócios com províncias e departamentos peruanos. É como se tivesse preparando de dia, espiritualmente falando, a lâmpada que será acesa à noite.

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O que falta, portanto, para se avançar?
Talvez o Encontro Internacional de Governos da Integração Rota Quadrante Rondon, previsto para acontecer em Rio Branco, até a primeira quinzena de julho, responda. Com aval do governador Gladson Cameli os trabalhos estão sendo coordenados por dois secretários: Assurbanipal Mesquita (Seict) e Ricardo Brandão (Seplan), com apoio da Aleac e Fieac.

O objetivo do Acre é o de liderar as discussões para viabilizar a consolidação do corredor como via principal do comércio exterior do sudoeste da Amazônia brasileira.

De acordo a secretaria de planejamento, “além do comércio exterior agropecuário, a maior oportunidade que se apresenta para o Acre é se consolidar como um grande eixo produtor e exportador de produtos da nova bioeconomia amazônica, como a castanha-do-Brasil, açaí, látex, óleos e cosméticos, com a “marca” da sustentabilidade ambiental, de baixas emissões e adoção dos padrões ESG (responsabilidade com meio ambiente, questões sociais e governança).

Os recordes da balança comercial e a previsão da maior safra de grãos para 2026 deixam claro que o estado e a iniciativa privada já sabem o que fazer para continuar avançando e ajudando a tirar o Acre da dependência econômica.

Ser protagonista é uma decisão acertada de governo para não assistirmos o “trem do desenvolvimento” passar. Como comunicar isso, conquistar apoio necessário no cenário interno e externo é o grande desafio.

Não existe caminho fácil, ainda mais quando os interesses econômicos são diversos.

Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa. Colabora com o NH.