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Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca

A ‘fluidez’ de Cameli, o governador das pontes em tempos de modernidade líquida

A ‘fluidez’ de Cameli, o governador das pontes em tempos de modernidade líquida

Quem já ouviu o governador do Acre, Gladson Cameli, falar quando improvisa em seus discursos, que sua gestão constrói “pontes” e não “muros”, talvez imagine que ele já leu uma das mais de 50 obras do sociólogo e filósofo polonês, professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia, Zygmunt Bauman, autor da frase emblemática: “Nós não deveríamos construir muros, deveríamos construir pontes.”

Quem sabe, neste “mundo líquido” defendido por Bauman, Cameli até tenha um de seus livros em cima do criado-mudo. Na vida fluida da qual Baumam falava, o ser humano estaria propenso a mudar de uma hora para outra, as vezes de forma imprevisível.

Levando em consideração que pontes são estruturas que servem para interligar dois pontos inacessíveis, separados, podemos afirmar que este será mesmo o governo das pontes!

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A ponte sobre o Igarapé São Pedro em Assis Brasil inaugurada semana passada; a ponte sobre o rio Iaco em Sena Madureira com previsão de inauguração ainda este ano; a ponte sobre o rio Acre na região da Sibéria, em Xapuri; a ponte do Anel Viário entre as cidades de Brasileia e Epitaciolândia. O viaduto entre as avenidas Getúlio Vargas e Minas Gerais. O Viaduto da Corrente. A passarela sobre o rio Amônia em Marechal Thaumaturgo.

Cameli reforma a antiga ponte metálica sobre o rio Acre, que leva o nome do ex-presidente Jucelino Kubitschek, cujo estruturas metálicas foram compradas durante o governo Valério Magalhães e inauguração aconteceu quatro anos depois, em 1960, na gestão de José Augusto de Araújo.

E nem precisou ligar para as editorias dos sites e jornais. Os críticos de plantão, a torcida do quanto pior melhor, os que viviam cobrando por obras estruturantes com o DNA dessa gestão se calaram. Esse é um tema que vive um apagão nas redes sociais.

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E olha que falamos apenas de pontes
Quantos muros esses investimentos vão quebrando? Que caminhos essas obras de artes nos levam?

Um exemplo prático do que essas pontes representam no campo estrutural e até geográfico é a ligação sobre o rio Acre em Xapuri. A integração ligará o Baixo Acre à Sena Madureira. Em conversa com antigos moradores da região, entre eles, ex-prefeitos, tive conhecimento de que esse projeto foi iniciado pelo ex-governador Jorge Kalume.

A ligação via terrestre ocorre pelo ramal da Sibéria que atravessa o igarapé Espalhado, chega à estrada Transacreana, levando até Sena Madureira, cerca de 220 km. O ramal Sibéria foi iniciado, mas, a integração sonhada por Kalume só volta acontecer na gestão de Cameli, com a construção da obra mais complexa: a ponte erguida no berço da revolução acreana.

O governador Gladson Cameli fala de sonhos quando se refere a construção de pontes. A retórica atenta para um estilo de governar como nunca visto antes na história política do Acre.

Ainda no campo filosófico eu arrisco a dizer que a liberdade de expressão proporcionada por seu perfil é uma das maiores “pontes” construída em sua gestão, capaz de permitir a identificação e a exposição de supostos escândalos de seu governo, e, também, de balizar a relação do estado com a sociedade em tempos de infodemia.

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Eu gosto dos dias em que, inspirado, o governador improvisa seu discurso. “Te vira que tu não é prato”, ouvi ele falar para um de seus secretários durante a inauguração da Casa de Embalagens de Banana, em Acrelândia.

Essa destreza no modo, às vezes, de tratar assuntos polêmicos, de fórum íntimo, externou impulsos e emoções, ajudou a equilibrar momentos de crises profundas vividas pelo Palácio Rio Branco e pelo cidadão Gladson Cameli. Ninguém é de ferro, além de governador, Cameli é uma pessoa comum, com sentimentos, desejos e projetos. O “zero um” que se senta nas escadarias do seu local de trabalho para comer pipoca.

O Acre fecha 2023 com recorde na redução do número de desempregados no terceiro trimestre do ano, saindo de 9,3% para 6,2% da população em condições de trabalho, ficando atrás apenas dos estados de São Paulo e do Maranhão.

O ideal é que a mensagem de Cameli fosse ampliada para todo o corpo gestor. Desde o primeiro ao último escalão de governo, todos deveriam se espelhar no perfil do Chefe.

Cameli, mesmo que toda sua inquietude, sobrevive ao mundo da comunicação digital. Ele e Bauman, neste momento de grande desinformação, têm razão, vivemos tempos líquidos, quase gasosos. Vamos “construir pontes”. O mundo precisa de ligação, conexão, elo, associação, união, vinculo.

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Recomendo a leitura
Pela tese de Bauman, gerar emprego é combater um dos piores abalos estruturais da individualidade. No livro “Tempos Líquidos”, um de seus volumes mais vendidos, o autor cria uma lista de medos modernos para mostrar como esses temores e inseguranças impactam aspectos sociais e econômicos da vida cotidiana. Recomenda ações que ofereçam conforto e segurança aos cidadãos.

Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e escritor. Escreve semanalmente para o NH.