A desconexão sobre o que dizia o ex-senador Jorge Viana (JV) antes do resultado das eleições de segundo turno no Brasil e o que passou a falar pós-resultado, talvez ajude a explicar a pífia votação que ele teve no cenário regional e o tamanho do PT no Acre.
Não está claro ainda para quem Jorge Viana dirige suas análises, mas, com certeza, tamanha incongruência não tenha contado nem com a atenção dos 29,70% de acreanos que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva. Até porque a ampla maioria, 70,30% que optaram em votar no presidente Jair Bolsonaro, já conhecem a “mente de lobo” de JV.
O ex-senador se credenciou a escolher quem será o interlocutor do Palácio Rio Branco com o presidente Lula. Largou aquela leveza da propaganda eleitoral, a fala mansa nos velórios que visitou apertando as mãos de cidadãos, a postura bacana de quem ajudaria o Acre, para atacar e chamar adversários de hipócritas, elegendo como única estrela a do PT, onde, segundo seu juízo todos orbitaram politicamente.
É o Jorge Viana sendo ele mesmo.
Ignorando o recado das urnas nas eleições do estado e o resultado apertado nas eleições presidenciais que surpreendeu o próprio partido no segundo turno. Em meio a um país aflito com o discurso de enfraquecimento das instituições presente no bloqueio de rodovias o ex-senador atacou o governador Gladson Cameli, a bancada de deputados federais – todos eleitos democraticamente – criando uma espécie de terceiro turno no Acre, com uma metodologia pobre e desnecessária, diante dos tamanhos desafios econômicos, sociais e ambientais que se tem pela frente.
Será que ao afirmar que o PT precisa se reinventar o ex-senador se incluiu nesse processo?
Jorge Viana tem conseguido ser mais raivoso do que o próprio presidente Bolsonaro que, ao contrário do que todos esperavam, num discurso de dois minutos e três segundos, reconheceu o processo eleitoral e garantiu cumprir a constituição.
Depois de chamar o MDB do Acre para compor a favor de Lula antes das eleições de segundo turno, JV chama para próximo, o PSD do senador Sérgio Petecão que seria, nesta engenharia, o interlocutor da bancada federal em Brasília. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab já sinalizou com aliança ao PT e anunciou o nome de Jorge Viana como um dos cotados para a economia.
Será que essa “frente de partidos” formada no Acre pelo PT-MDB-PSD, incluindo ainda PCdoB e PV, está realmente preocupada com o desenvolvimento do Acre, o sucesso da gestão do reeleito governador Gladson Cameli ou de olho em 2026?
Isso também me faz lembrar Nicéforo Basilakis que, no século XII, escreveu um conto onde ilustra o perigo de se usar um disfarce. O autor usou um lobo que “certa vez decidiu esconder sua natureza, alterando sua aparência, para assim, ter comida farta”.
Sugiro que o leitor busque a moral da história exemplificada desse conto que é antigo, mas, ilustra muito bem o que assistimos na política local pós-resultado das eleições presidenciais. Ninguém vai a lugar nenhum sozinho como um lobo solitário. Isso também ficou muito explicito nas eleições.
Sabe aquele ditado em latim “Pelle sub agnina latitat mens saepe lupina” (sob uma pele de cordeiro, muitas vezes se esconde uma mente de lobo!) também se aplica neste papo de cafezinho.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa, coordenador atual da Rede Aldeia de Rádios FM.