O leitor deve estar se perguntando o que a onça tem a ver com lua nova e por que o ex-senador Jorge Viana pode pedir música no Fantástico?
Bem, segundo o poeta e editor francês Charles Péguy “tudo começa em mística e termina na política”. Por que não invocar a divindade para entender esse imbróglio que se tornou a eleição no Acre desse ano?
A lida do governador Gladson Cameli para terminar de montar sua chapa lembra muito a batalha de Hércules contra a Hidra de Lerna - mitologia grega - que conta a história da serpente de sete cabeças. Durante à luta, as cabeças renasciam assim que eram cortadas, revelando o perigo incessantemente renovado. Assim caminha o Palácio Rio Branco, tamanho o bulício.
Do outro lado, quem diria, a dinastia que governou o Acre por mais de duas décadas não tem nomes para encabeçar uma eleição majoritária. O “Plano A” sucumbiu. Os planos “B” e “C” se negaram a atender ao “chamado”. Jorge Viana parece liderar a ele mesmo, foi incapaz de construir uma federação que voltasse ao jogo.
A grande verdade é que a sede exagerada ao pote faz Jorge Viana conviver com o drama da gíria: “nem mel e nem cabaço”. Um erro a mais de estratégia e nem o “Papa” consegue lhe tirar o mérito de pedir música no Fantástico. De forte aliado, Jensilson Leite, do PSB, se tornou em uma “ameaça”.
O que nos conforta em todo esse cenário de incertezas e de exclusão do debate em torno de temas importantes para o desenvolvimento do Acre é a força da lua nova atuando no universo durante o período final de convenções, um prenúncio de calmaria. Essa fase nos remete à reflexão, ao recolhimento.
Creio que Gladson Cameli acertou em buscar o caminho da idiossincrasia, mergulhando nos mistérios da natureza. No contrafluxo, Jorge Viana foi pedir benção ao ex-presidente Lula, em São Paulo. Observando tais movimentações, muitos perguntam pelos resultados do projeto de florestania implantado lá atrás.
É das nossas florestas a tradição herdada de nossos ancestrais de respeito ao sol e à lua. Algumas etnias regulavam a sociedade através do universo. Convém lembrar que os índios, por exemplo, sabendo que a chegada da noite é o momento de a onça buscar água, não pescam e nem tomam banho nesse horário. Eles temem pela reação do animal que se posiciona de maneira que seus olhos observam qualquer movimento suspeito.
Diz ainda a tradição que nessa hora decisiva em que muita coisa vai para o brejo, quem não tem café no bulhe, tire o cavalo da chuva.
Qualquer semelhança entre lenda e a realidade é mera coincidência.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa. Estar coordenador da Rede Aldeia de Rádios FM.