O eleitor acreano assiste de forma atônita a “armadura partidária” montada em função de interesses próprios e longe dos objetivos coletivos. Impressionante como um “movimento de ódio” se instalou nas principais bandeiras partidárias do estado, apresentando até aqui um cenário apático e vazio de ideias e pelo que se vê, com o clima acirrado e no vale tudo em que o jogo se encontra, até o dia 2 de outubro, do pescoço pra baixo é canela.
Esta parece ser a “questão de ordem” ditada pelos “donos” de partidos, distanciando cada vez mais o eleitor do processo político. Há 10 anos, pesquisa quantitativa do DataSenado indicava que 63% dos brasileiros tinham interesse em política, percentual que caiu a 53%. Entre os insatisfeitos, estão os desiludidos, para eles, os políticos buscam manter a população alienada, desinformada até do processo político.
Há dois anos a briga era entre os que temiam morrer de fome e os que estavam temerosos em perder a vida por falta de assistência médica. Agora, não dá pra ficar de nenhum lado, porque não se debate o país, muito menos o Acre, o bordão é em torno do balcão de negócios que se transformou as agremiações políticas, com raras, raríssimas exceções. Todos de olho no controle do fundo partidário. Uma lamentável realidade: domínio de caciques, recursos públicos tratados obscuramente, serventia em torno de candidaturas, zero debate político-partidário. Que se dane as ideologias, parece ser o tom.
A janela partidária que permitiu um novo mapa nas filiações trouxe à baila, após o seu encerramento de prazo, um movimento ainda mais traumático. Colunistas políticos nunca tiveram tão bem pautados com decisões bruscas, cabeças rolando, turbulências. A guerra nos bastidores dos partidos, sem nenhum exagero, tem efeito psicológico que se iguala a da Ucrânia com a União Soviética. Muitos anoiteceram filiados em um partido e amanheceram em outro. Pré-candidatos orbitando ameaçados de não terem legenda. Muito cacique para pouco índio.
Pior que esse “gabinete do ódio” também atingiu a nova oposição. Quem apostaria nas desconfianças entre PT e PSB tanto a nível nacional, onde a federação pode não vingar, quanto a nível estadual? Quem previa a indecisão do ex-senador Jorge Viana na definição de sua pré-candidatura? Quando se trata de engenharia política essa turma encarnada sempre enxergou longe, previamente tinha chapa pronta e apresentada. Que falta faz a velha estratégia do toma lá, dá cá, parece que assim eram mantidas as alianças na extinta Frente Popular do Acre.
Tantas hesitações seguem infladas por articuladores que se esqueceram do bê-á-bá da política: juntar água e óleo. Impressionante como eles insistem em desarticular, puxar o tapete de quem não baixar a cabeça para pressões, de quem não reza nas cartilhas impostas com projetos de oligarquia.
Ainda bem que até a intolerância tem seu lado positivo. Semana passada em um ato institucional a prefeita Fernanda Hassem, vice-presidente da Associação dos Municípios do Acre desabafou:
_ Avisem aos articuladores que insistem em nos distanciar para pensar no povo que mais precisa. A minha cor partidária é a população – disse a prefeita com olhar fixo ao governador Gladson Cameli, na comunidade Nazaré, zona rural de Brasileia.
_ Jamais deixarei de trabalhar pela população de Brasileia, só se eu morrer – respondeu o governador.
Ela, prefeita melhor avaliada entre os 22 gestores do Acre. Ele, favorito em toda pesquisa para reeleição ao governo. Com discursos franciscano, com direito à citação: “é dando que se recebe”, Fernanda e Cameli concordaram que muita água ainda vai passar por debaixo da ponte. Coincidentemente, eles inauguravam a chegada de água para 736 famílias, maior ampliação do sistema de saneamento da gestão atual. A retórica, porém, não era para a plateia que os ovacionou.
Tem sido difícil compreender quem vem provocando tanta cizânia no ordenamento político e a quem isso realmente interessa. Tal ofensiva esquece outro bê-á-bá: em política se cisca para dentro e não para fora. Eu não duvido – e creio que o leitor também não – que Cameli e Fernanda são dois gigantes na política apartidária. Eles fazem gestão sem paixão pelo azul ou vermelho.
Muitos questionamentos são feitos.
A leitura desses fatores há praticamente 90 dias antes das eleições misturada à falta de propostas para o desenvolvimento do Acre por parte dos que se alçam voos ao Palácio Rio Branco, torna desestimulador a participação na política.
Se por um lado o Tribunal Superior Eleitoral (STE) comemora o recorde na emissão de mais de dois milhões de novos títulos para quem faz 16 anos até o dia 2 de outubro deste ano, do outro, as siglas partidárias experimentam o amargo café de declínio dessa faixa etária de cidadãos, militantes, até os 24 anos, na vida orgânica das agremiações. Menos de 2%, segundo estatísticas do TSE (2021) se interessam em se unir a algum partido.
Tudo nos leva a crer que muita gente boa é engolida pela fúria dos coronéis de barranco, caciques que se julgam “donos” de suas tribos (leia-se partidos) diria até que atingidas por essa política ultrapassada.
Ainda bem que existe um sentimento de esperança que deseja o bem comum. Assim como algumas lideranças, o Acre é gigante e o governo tem que ser reflexo do seu povo.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa, estar coordenador da Rede Aldeia de Rádios FM, âncora do programa Cidadania.