Será que o prefeito Tião Bocalom se inspirou no francês Yves Klein – criador do matiz ultramarino, batizado de Klein Blue – para determinar a pintura das faixas de pedestres em Rio Branco de azul?
Está o velho Boca evocando a imaterialidade e a imensidão de sua própria visão particular e utópica do mundo?
Quando Klein criou o azul comparou-o a uma janela aberta a liberdade. Acho difícil que esse conceito esteja impregnado nessa paixão pelo azul que o Bocalom insiste em compartilhar com a população rio-branquense desde o último natal.
Não precisa ser nenhum cientista político para saber que a ideia do prefeito Bocalom é política. Uma estratégia de marketing em pleno ano eleitoral, que, diga-se de passagem, vem sendo duramente criticada por muitos que silenciaram na era do vermelhaço. Tempos em que ambientalistas assistiram de braços cruzados ao uso insustentável de bambus que se transformaram em mastros, em que até as copas das arvores eram poluídas com a cor encarnada.
Quem não se lembra das eleições, o enfrentamento nas ruas das bandeiras vermelhas do Partido dos Trabalhadores e do Azul do PSDB?
As cores da democracia que acabaram rompendo amizades e separando famílias, tingidas de violência, chegaram a ser renegadas nas últimas eleições pelos partidos de esquerda no Acre e no Brasil. Marcus Alexandre chegou a usar mais de 50 tons na campanha de 2016, menos o vermelho tradicional do PT.
O que se esperava era algo diferente.
Quando o eleitor votou pelo fim da oligarquia Viana, a queda dos 20 anos da Frente Popular do Acre, optou pelo novo.
Onde está a liberdade de quem dirige pelas ruas de Rio Branco e se ver aferrado pelo azul. Única ideia, um só pensamento? Parece ter sido aberta a porta do autoritarismo.
A vida e a política podem ser enquadradas a uma única tonalidade?
Tudo bem que pintamos a morte de preto, mas, nem tudo pode ser avaliado pelas vibrações do cromático. Já imaginou se descobríssemos a cor do cinismo? E a fé, a fé tem uma cor única?
Bom seria que Bocalom, nossa autoridade azul, descobrisse e investisse recursos públicos na cor da liberdade, talvez não tivéssemos tantos escravos de uma única bandeira. Nem a bandeira azul e muito menos a vermelha.
Já imaginou na cor da geração de emprego e renda?
Essa descoberta em Rio Branco tornaria a juventude mais digna, longe das facções.
Espero que ninguém na RBTRANS inspire os engenheiros da EMURB a pintar os buracos da cidade de azul e transformar a capital dos acreanos em uma Parintins, com direito a trocar a estátua do herói Plácido de Castro pela do boi Garantido.
Eu não duvido de mais nada, mas, prefiro continuar tomando meu cafezinho quente à beira do rio Acre olhando para as harmônicas cores do arco-íris, lendo Maggie Nelson, que ao escrever sobre o azul, produziu um pequeno livro que capturou, em fotograma, o espírito da paixão.
Nesse país verde e amarelo, de uma Amazônia imensa e verde, há tanto azul no céu que nem precisamos de ensaios filosóficos e anotações sentimentais em nossas ruas. O povo está cansado de tanto extremismo e dessa crença conspiratória. A sociedade quer paz e comida na mesa.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa, estar coordenador da Rede Aldeia de Rádios FM. É ancora do programa Papo de Cafezinho.