A bordo do boeing 737-800, voo da Gol 1798 de Brasília para Rio Branco, na noite da última quinta-feira, 9, após tomar um delicioso cafezinho no Madero STEAK HOUSE, no aeroporto internacional de Brasília, li uma notícia que me chamou atenção: na Noruega, “Papai Noel Gay” beija um homem durante comercial de quatro minutos.
A informação lembrou a polêmica em torno do projeto financiado pela Fundação Garibaldi Brasil (FGB), de um musical interpretado por um “Papai Noel Gay” voltado ao público LGBTQIA+, que levantou reações pessoais, posicionamentos de entidades de classe, e suscitou interesse do Ministério Público Federal que abriu inquérito para apurar suposta conduta homofóbica pelo prefeito Tião Bocalom. O católico praticante que não arreda um milímetro daquilo que acredita, até chegou a anunciar veto ao musical.
A caminho de casa, vendo as redes sociais percebi que o debate não ficou apenas sobre a discriminação por orientação sexual.
O Acre é mesmo enjoado. O Natal deste ano está literalmente na ponta do pincel!
A cor da casinha do Papai Noel pintada e repintada pelo prefeito Tião Bocalom foi o que repercutiu durante todo o fim de semana. Semana antes, o azul manchado no portal do Parque da Maternidade já tinha virado um verdadeiro campo de batalha, o que levou o ex-senador, ex-governador e o ex-prefeito Jorge Viana, a surtar literalmente, pelo que classificou como suposto “roubo de identidade cultural”.
Parece que o ex-senador tem as sequelas de esquecimento provocadas pela covid-19, e coube a turma da internet recuperar o lapso temporal, de forma que o lembraram do colorido sutil a uma seringueira, o avermelhou dos ônibus escolares, e também o recordaram dos 20 anos mais acirrados das campanhas políticas com discussões acaloradas entre os que se dividiam em vermelho (PT) e o azul (PSDB). O Jorge poderia ter evitado tamanho deslize.
Mas, voltando ao debate sobre este natal, esse homem que aprendemos a acreditar desde criança que se veste de vermelho e branco, que entra pela lareira de cada dezembro com um saco nas costas carregado de presentes, tem sexo e cor?
Parece que vivemos uma discussão do sexo dos anjos.
Enquanto o assunto é o musical “Papai Noel Gay”, Rio Branco figura entre as três piores capitais do país, por exemplo, que menos vacinou contra a Covid-19. A capital administrada por Tião Bocalom com 49,7% da população vacinada, estar à frente apenas de Boa Vista (45,6%) e Macapá (31,4%). O levantamento foi feito pela Folha de São Paulo, a partir de registros do Ministério da Saúde e estimativas populacionais do IBGE.
Enquanto o tema é a cor da casinha do Papai Noel pintada e repintada na praça da Revolução, o Brasil continua sendo o país de maior preconceito contra o público LGBTQI+. A imprensa se pauta pelo debate das redes sociais usando a velha estratégia de “perfumaria”, vendendo acessos, sem aprofundar o debate, perdendo uma oportunidade de cumprir com o seu papel social.
Creio que o correto seja mesmo descomplicar ou elevar o debate.
Aconselho até um cafezinho quente para falar sobre o assunto.
Na Noruega, por exemplo, o beijo do Papai Noel Gay é em comemoração aos 50 anos da aprovação da lei que permite o casamento de pessoas do mesmo sexo no país, em 2022. A peça publicitária faz referência ao filme Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro. Na trama, um homem escreve uma cartinha para o Papai Noel dizendo que quer o próprio como presente de Natal.
Não somos uma Noruega – estamos muito longe disso – mas, seja qual for a qualidade da produção do musical do Papai Noel Gay de Rio Branco, o projeto que acabou levantando toda essa polêmica, já alcançou um dos seus principais objetivos: o de despertar para o debate em torno da diminuição dos preconceitos contra esse público LGBTQIA+.
Que o Natal seja do verdadeiro Papai Noel, essa figura fictícia que não tem sexo, cor, raça ou nacionalidade.
Papai Noel é um símbolo de bondade, de compaixão, e de priorizar a felicidade de todos: héteros, não héteros, não monossexuais e por ai vai...