Convenção climática mantém o planeta na UTI, foi “para inglês ver”
Depois de intensos debates em um dos pontos turísticos mais badalados do mundo, em Sharm el-Sheikh, no Egito – um paraíso de resorts – a retórica das convenções climáticas não mudou, a regra é: floresta em pé e dinheiro no caixa. Essa é a relação que países ricos chamam de “equilíbrio” com o homem da floresta e os que mantêm biomas vivos.
Pior que tudo feito aos olhos do mundo em um debate “para inglês ver”. Nenhuma das metas de financiamento assumidas desde a convenção realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi cumprida. O envio de US$ 100 bilhões endossado pelo acordo de Paris ficou no papel, não foram dados passos suficientes para uma compensação que exige muito mais recursos financeiros aos países pobres que sofrem com o aquecimento global. O famoso debate de “perdas e danos”.
Marcada como uma das mais longas da história de conferências, a COP27 terminou sem apresentar prazos e valores no aguardado fundo financeiro para os países pobres mitigarem os efeitos climáticos provocados pelo aumento da emissão de gases na atmosfera.
Em relação ao uso e ao subsídio dos combustíveis fosseis também não ocorreu nenhum avanço, apenas o uso do carvão será reduzido, mas, o acordo é da COP26, nada de novo. Pelo contrário, foi aberta a porteira para o uso crescente de gás natural, o que pode complicar ainda mais a luta pela sustentabilidade.
O texto também não apresenta formulas de como o mundo vai limitar o aquecimento global em um grau e meio para evitar tragédias climáticas ainda maiores.
Após vinte e sete edições em potenciais turísticos se descobriu que o debate tem foco exagerado na ciência e não na vivência de quem realmente mantém nossas florestas em pé. Seringueiros, extrativistas, ribeirinhos, “os cientistas da Amazônia” que poderiam dar uma contribuição gigantescas ao debate, mantêm-se isolados em seu habitat apenas com a obrigação de não desmatar. O Brasil apresentou o mesmo cardápio de queimadas, invasões a terras indígenas, garimpos, o sonho de desmatamento zero na Amazônia.
O presidente Lula – para quem parte da mídia afirma ter sido preparado um palco na COP27 – depois que apelou pelo fim da fome, esqueceu que a cerca de três mil quilômetros dali, ao sul do Egito, estão os países africanos que menos poluem e mais sofrem com os impactos das mudanças climáticas e a fome, preferiu visitar Portugal, experimentar a culinária do Palácio de Belém, residência oficial do presidente Marcelo Rebelo.
O petista já tinha conseguido ser o centro das atenções na carona que pegou até Sharm el-Sheikh, no jatinho de seu amigo pessoal, Seripieri Filho, preso em 2020 em uma operação da Polícia Federal de Caixa 2. Ele não foi o único a se destacar fora da agenda nos painéis, o mergulho do ministro do meio ambiente, Joaquim Leite – chefe da delegação brasileira na COP27 – nos corais do mar vermelho, também conseguiu lugar de destaque nos holofotes da imprensa internacional.
O Acre comemora a prospecção de R$ 300 milhões de investimentos durante a sua participação na convenção, porém, tem pela frente uma missão desafiadora que gira em torno de arranjos contratuais futuros. É que alguns acordos exigem do estado a contenção de desmatamento e degradação e, ainda, a geração de ativos decorrentes de serviços ambientais, o emprego verde. Sem esse esforço, não tem captação de recursos.
Na “dívida do clima” é floresta em pé e dinheiro no caixa.
O mundo vai esperar até 2023, na COP28, que acontece em Dubai, pelo trabalho de um Comitê de Transição, formado por 24 países, que vão elaborar “um estudo e adoção” dos novos mecanismos de financiamento.
Até 2023 vamos tomando esse cafezinho quente e assistindo situações atípicas como o novembro com cara de julho no Acre.
O mundo do turismo agradece o próximo roteiro da convenção, só assim Dubai receberá levas da pobreza com a mediação das Nações Unidas que, neste quesito, está com a moral elevada.
O planeta continua na UTI.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa. Coordena a rede de Rádios Aldeia FM