Quem anda com o governador Gladson Cameli, já deve ter ouvido ele dizer que “não brinca com números”. Eu ouvi várias vezes essa afirmação em 2014 quando o acompanhei na pré-campanha e campanha por todo o estado. É dele também o jargão: “já deu certo!”
Bem, com relação ao “não brincar com números” devo respeitar quem discorda e até se incomoda com o otimismo do atual chefe do Palácio Rio Branco. Mas, não tem como camuflar até aqui a confiança da população em sua gestão.
O ponteiro das intenções de votos à reeleição continua sem se mexer para baixo. Foram três pesquisas em menos de 15 dias com essa certidão. Talvez isso explique tanta inquietação dos seus adversários. Além desses, tem a turma que trama tomar o poder a qualquer custo, o grupo do quanto pior melhor. A verdade é que juntaram-se todos contra o Gladson.
Nesse paredão, a oposição faz o seu papel diria até que de forma mais respeitosa do que ‘pseudoaliados’ ou ex-aliados do governo. Eu não vi, por exemplo, o ex-governador, ex-senador Jorge Viana (JV) criticar a brincadeira de Cameli com um calango. Experiente, JV prefere debater no andar mais de cima, tomar cafezinho quente com o eleitor, e quem diria, tem ido até em velórios. Toda essa interação desagua na sabedoria popular que o bom acreano conhece, "cobra que não anda não engole sapo".
Ninguém consegue entender o estilo populista do governador. Como avaliar o seu gesto de sentar-se ao lado de trabalhadores da construção civil e comer marmitex? De descer as escadarias do Palácio e ir comprar pipoca na esquina da Alegria? Isso é diferente de tudo que se viu nos últimos 20 anos.
Já deu certo?
Bem, assim ele chegou ao maior cargo político do estado. O que tem incomodado muita gente que torce contra é que até o funk ou a pisadinha – como queiram classificar o compasso que viraliza no Tik Tok – ensaiado vez ou outra nas quebras de protocolos do governador, tem funcionado como estratégia política.
O fenômeno Gladson Cameli pode estar relacionado ao que estudiosos chamam de “generalização empírica”, ou seja, no jogo político ele aposta na maneira que cada um pode contribuir sem se importar para cores partidárias. Há quem chame isso de ‘balaio’. Eu prefiro usar a metáfora do violão e do violino, os dois acabam se harmonizando na grande orquestra. E nessa música Cameli “desenrola, bate e joga de ladim”.
Isso não é subestimar adversários, o pré-candidato Gladson Cameli e sua equipe sabem da campanha de desconstrução que vão enfrentar. Sabem que precisam melhorar suas estratégias políticas, que ciscar para fora tem sido uma corda desafinada. Que a sangria dentro do Progressistas deixou de ser um problema da senadora Mailza Gomes e passou a ser estrutural.
A onça tá caminhando para beber água debaixo da ponte.
E antes de esfriar o cafezinho, me arrisco a dizer que além da leveza apresentada em suas performances, Gladson Cameli amadureceu e aprendeu a viver sob pressão. Por isso, muita ‘gente boa’ não esperava.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e estar coordenador da rede Aldeia de Rádios FM do Sistema Público de Comunicação do Acre.