A bordo do boeing 737-300 da Latan, nesta quarta-feira, 20, com destino a São Paulo, uma viagem a trabalho, me surpreendi com o número de postagens informando o falecimento do Pastor Walter José, da Igreja Madureira, em Rio Branco.
Não foi diferente durante o feriado de quinta-feira, 21, em relação a Tiradentes. A data mais uma vez foi marcada por dezenas de políticos que se arriscaram – através de suas mídias sociais – a falar sobre o maior símbolo da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado em 1792 por traição à coroa.
O movimento da quinta-feira nas redes sociais nada tem a ver com a instalação da república ou de uma nova república. Até porque muitos que postaram algo sobre Tiradentes, sequer conhecem a conspiração mineira que planejou o fim da dominação portuguesa ao Brasil ou estão preocupados com os rumos de nossa democracia atualmente. Trata-se de uma rotina programada pelo media social mesmo, em que muitos, investem na manutenção de acesso de seu público alvo.
As divulgações com relação ao falecimento do líder da Igreja Madureira, pastor Walter José, nos levam a um novo movimento que tem despertado o interesse acadêmico com estudos sobre as transformações que as redes sociais tem feito na vida das pessoas.
É que além de cultuar heróis, os políticos, as celebridades e os amantes do Facebook e do Twitter, os influenciadores digitais, resolveram tirar da intimidade das famílias as formas de luto e o diálogo sobre a morte. Quem não se lembra no Acre da enxurrada de postagens feitas em homenagem ao morador de rua conhecido como Nego Bau?
Ocorre o que duas sociólogas, Nina Cesare e Jennifer Branstad, chamam de “ampliação dos círculos em que o luto transcorre”, um legado das redes sociais Facebook e Twitter, com objetivos diferentes. Ambas, no entanto, criando um espaço público antes inexistente no qual ocorre um debate entre pessoas que nem conhecem o falecido, mas, que são capazes de através do diálogo, de condená-lo ou canonizá-lo.
O céu e o inferno das redes sociais onde nem sempre se falaria o que se escreve em um auditório lotado de familiares, amigos, colegas de trabalho. Descobriu-se quatro características de internautas, principalmente no Twitter. Os que enviam mensagens diretas ao morto com lembranças e histórias comuns. Os que enviam mensagens intimas a fim de mostrar conhecimento, manter laços. O terceiro tipo que aborda reflexões sobre a vida e a morte e, por último, os que criticam o falecido e o estilo de vida que ele levou.
Em qual dessas categorias você se encaixa?
Não me diga que você, mesmo não sendo político ou influencer digital, nunca fez um comentário referente a um luto?
A verdade é que as redes trouxeram a morte ao ambiente público, longe do que eram esses rituais no século XX, relegados ao interior das casas e às funerárias. Sabe aquele sofrimento na intimidade?
Segundo o estudo, se o Facebook representa esse ambiente mais próximo do falecido, até pela escolha de quem pode curtir ou compartilhar a dor, o Twitter ampliou esse conceito de debate sobre a vida e a morte. É como se quem comenta pelo Twitter não esteja presente no velório.
Nem sempre, porém, você deve entrar nessa onda da “terra de ninguém” que se transformou a rede social, condenando ou canonizando quem você nem conhece. Os especialistas alertam para a interferência da sua imagem pessoal e não a do falecido.
Assim como sãos arriscadas as postagens sobre fatos ou personagens históricos que você não tem conhecimento. O político não pode ser um super homem. De acordo com uma pesquisa do jornal americano "Star Tribune", 35% das redes sociais eliminam um candidato justamente por causa das suas postagens nas redes sociais.
Bem, como conselho e um bom papo de cafezinho a gente oferece, não se vende, fica a dica. Falar sobre a morte nas redes sociais ainda é algo novo. Muito cuidado com o estar off-line e com a reputação no mundo digital.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa. Estar coordenador do sistema público de rádios FM.