Diria que se estivéssemos no século V a.C. (antes de Cristo) um dos grandes poetas do teatro iria escrever uma tragédia grega sobre a história acreana ou a atual história da luta entre o bem e o mal na política brasileira.
Com tantas agendas fora de Rio Branco e até mesmo fora do Brasil e anúncios de importação de tecnologia de primeiro mundo para o transporte coletivo e a educação, o prefeito Tião Bocalom voltou a ser alvo de memes, por estar desta vez em Manaus, quando a capital foi tomada por inundações e alagações, atingindo mais de oito mil famílias e trinta e duas mil pessoas, dados da manhã de sábado, dia 25.
Esse retrato catastrófico levou a assessoria do prefeito Bocalom gastar gordura tentado explicar o que ele fazia em Manaus. Enquanto isso, sete igarapés represavam causando transtornos a moradores e no trânsito de 36 regiões somente em Rio Branco.
Pra completar, três trechos da BR 364 foram inundados pelas fortes águas das chuvas, um deles, com rompimento do solo, bloqueando mais uma vez a única rodovia que liga o Acre ao restante do país. No trecho entre os municípios de Rio Branco e Bujari, a interrupção do fluxo de carros prejudicou o acesso ao aeroporto levando as companhias aéreas cancelarem voos.
O Acre ficou praticamente isolado. Milhares de pessoas sem energia, outros milhares sem o serviço de internet prestado por algumas operadoras, aulas nas escolas da rede estadual suspensas por tempo indeterminado, um caos.
Tudo bem que Bocalom é católico fervoroso, mas, alguém poderia receitar a ele um banho de sal grosso.
Não que todos esses transtornos estejam ligados à competência de resolução pelo município, mas, o principal sim, a ausência de um plano diretor de drenagem urbana, maior cobrança feita por internautas e a população atingida pelos repiquetes de igarapés. Falou-se o tempo todo em um plano de contingência e nada ou muito pouco foi feito no desassoreamento dos igarapés e córregos que cortam a cidade, a desobstrução de bueiros, enfim, soluções de engenharia para evitar essa agenda anual de enchentes, inundações e alagações.
Sugiro ao leitor um gole de cafezinho.
Foi uma semana de muitas previsões, até pai de santo arriscou noticiar efeitos de um terremoto no Acre. O tal ‘anel quente’ parece que congelou e mandou foi muita água. Mais de 170 milímetros entre quinta e sexta-feira.
Ressuscitaram o mordomo!
Importaram até um ciclone da Bolívia na tentativa de explicar o fenômeno das fortes chuvas que atingiram Rio Branco.
Também veio à baila promessa de 2019 do senador Marcio Bittar (UB-AC) sobre a despoluição do Igarapé São Francisco, que iria impactar positivamente na vida de 59 mil rio-branquenses. Os recursos eram do Ministério do Meio Ambiente, comandado, atualmente pela deputada federal licenciada, a acreana Marina Silva.
Marina que estava em missão fora do país, por telefone, ligou para o governador Gladson Cameli e garantiu abrir todas as portas do governo federal para ajudar as famílias atingidas. Depois ela acompanhou a visita do ministro Valdez Góes do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional ao Acre, onde o governo federal abriu o cofre para liberar, pasmem, apenas R$ 1,4 milhão.
Bittar gravou vídeo para falar da nova treta entre o presidente Lula e o senador Sérgio Mouro, a operação da Polícia Federal contra criminosos do PCC e o plano para matar autoridades brasileiras. Diga-se de passagem, que esse fato foi rechaçado pelo presidente Lula que chegou a colocar sob suspeita o trabalho da Justiça Federal e, por tabela, a credibilidade da Polícia Federal. O presidente do país chegou a insinuar que tudo não passa de ‘armação’. “Queria fuder com esse Moro”, disse Lula.
Diria que se estivéssemos no século V a.C. (antes de Cristo) um dos grandes poetas do teatro iria escrever uma tragédia grega sobre a história acreana ou a atual história da luta entre o bem e o mal na política brasileira.
Qual será o destino internacional que Bocalom vai buscar tecnologia de primeiro mundo para resolver as inundações e alagações em Rio Branco?
Isso talvez, nem o esforçado Artur tenha conhecimento. A única certeza é que os ônibus elétricos que o prefeito prometeu não transitam em ruas alagadas.
Last but not least (que em português quer dizer: por último, mas não menos importante), nessa semana de verdadeiro ‘banquete’ para jornalistas, dados da Polícia Rodoviária Federal revelaram que a BR 364, de sonho de integração virou um grande pesadelo para quem depende da rodovia para viver. Foram 79 óbitos em três anos provocados pelas péssimas condições da estrada federal.
A construção da rodovia idealizada em um papo de cafezinho entre o mineiro Carangola Paulo Nunes Leal e o então presidente Jucelino Kubitschek (JK), em 1960, virou caso de Justiça!
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa.