Quase dois anos depois Marina Silva tira da gaveta a proposta de criação da autoridade climática, exigência feita por ela em 2022 para apoiar o Lula III. Como vão se comportar as organizações ambientais internacionais durante conferência da ONU em Nova Yorque?
A catástrofe provocada pelas queimadas em todo o país só confirma letargia de um governo de muito discurso e pouca ação. Após o evento extremo vivido pela população do Rio Grande do Sul, se havia alguma dúvida sobre o estado de profunda inconsciência do governo Lula III, a dispersão da fumaça que invadiu pequenas e grandes cidades, afirmam total negligência quando o assunto é meio ambiente.
Enquanto o Brasil queima, Lula ainda prepara uma série de medidas que ele deve apresentar como políticas públicas na ONU essa semana, quando ocorre paralelamente a reunião dos chefes de estado, o “Climate Week" (Semana do Clima). Ou seja, é o Lula sendo ele mesmo, aproveitando um momento de calamidade para capitalizar politicamente no cenário internacional.
Foi necessário um ex-membro do seu governo, agora ministro do Supremo Tribunal Federal, Flavio Dino, exigir uma série de medidas para combater o descontrole das queimadas em praticamente todos os biomas brasileiros, postura que provocou um mal estar no Palácio do Planalto. Em ato contínuo, Dino autorizou o uso de recursos fora da meta fiscal para combater as queimadas no Pantanal e na Amazônia. Ou seja, liberação de gastos não limitado pelo arcabouço fiscal, sem metas fiscais.
Lula deve pegar o avião da FAB e sair da fumaça que encobre o céu brasileiro e, literalmente, o seu governo, levando consigo, o ministro Hadad.
Vamos ficar de olho como as organizações ambientais internacionais vão se comportar diante do cenário de caos enfrentado pelo Brasil que vai sediar a COP 30 ano que vem. No primeiro ano de Bolsonaro (2019), quando o país viveu situação semelhante, o ex-ministro Ricardo Sales, sofreu o pão que o diabo amaçou em sua participação no evento climático sediado em Nova Yorque.
As condições climáticas são severas, impediram até a ministra do clima, Marina Silva, de vir ao Acre debater o assunto, durante audiência pública convocada pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que tem a deputada federal Socorro Neri à frente.
Vale a pena lembrar que a condição dada no período eleitoral, em 2022, pela então candidata a deputada federal pelo estado de São Paulo, Marina Silva, para apoiar Lula no segundo turno, era a criação da autoridade climática. O assunto colocado na gaveta durante quase dois anos, veio à baila, em meio a estiagem histórica e recorde de focos de queimadas em áreas como o Pantanal e a Amazônia.
Ao “Bom dia, ministra”, da EBC, a ministra afirmou que não há, na atual legislação, amparo para medidas preventivas contra os eventos relacionados à emergência climática, só sendo possível atuar quando já há ocorrências.
Falta de aviso não foi.
Lula recebeu pedidos de ajuda pelo governo do estado do Amazonas, Wilson Lima, para reduzir ou pelo menos evitar os impactos de um “possível desastre”. De acordo reportagem do jornal Estadão, divulgada essa semana, ministérios públicos, comunidades indígenas e organizações ambientais também avisaram sobre o que poderia ocorrer.
Para ativistas ambientais o governo federal só passou a agir após “pressão”. Lula que já andava meio capenga com sua popularidade em baixa, assiste ao aumento do percentual de brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo, no que diz respeito ao meio ambiente. O índice subiu de 33%, em levantamento feito em abril, para 44% em setembro. A pesquisa foi feira pelo instituto IPEC.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e escritor. Colabora semanalmente com o NH.