Os afagos de Bolsonaro ao Acre e a queda vertiginosa da popularidade do presidente Lula. Play político às vésperas das eleições municipais
“Nunca interrompa um inimigo quando ele estiver em processo de autodestruição”. A frase de Napoleão Bonaparte se encaixa perfeitamente no cenário político que assistimos em Rio Branco, com a visita do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua esposa Michele.
O que para muitos pareceu uma agenda vazia de quem não tinha muito o que fazer – ficar três dias no Acre – foi uma estratégia política de Bolsonaro que junto com o Partido Liberal (PL) sonha em eleger o maior número de vereadores e prefeitos no país nas eleições deste ano. Uma espécie de pavimentação do pleito eleitoral de 2026.
No Acre, para desespero da esquerda, a passagem de Jair Bolsonaro não foi diferente, movimentou uma multidão de gente. E quem esperava um ex-presidente grosseirão, truculento, como ele se comportou nos anos em que esteve no Palácio do Planalto, se encontrou com um cidadão sensato, tranquilo que se quer tocou no nome do atual presidente Lula.
Uma inversão de papeis
O Lula que era o cara da democracia, eleito com a promessa de acabar com a divisão política do Brasil, vem falando um monte de besteiras e despencando seus índices de aprovação. Em um ano, de forma vertiginosa o percentual de aprovação ao presidente apresentado em pesquisas é o mais baixo da série histórica, e o primeiro a ficar abaixo de 50%. Por que meter o nariz nessa autodestruição?
A meta é clara: a ordem é despetizar o Brasil
A direita reage para diminuir a esquerda onde ela foi forte o suficiente para tomar o poder bolsonarista, como a região nordeste, para onde Bolsonaro e Michele vão dia 11 de abril, em mega evento preparado em Fortaleza no lançamento da pré-candidatura de André Fernandes à prefeitura.
Voltando ao Acre, o Partido dos Trabalhadores (PT) em nota surpreendente, liberou o palanque para Bolsonaro e os extremistas de direita. Manifestação zero contra o “mito”. Alguns, como Jorge Viana e Naluh Gouveia, numa demonstração de normalidade democrática, ensaiaram cortinas de fumaça. Um play político às vésperas das eleições municipais em que o PT pode, novamente, ser esmagado nas urnas.
Mesmo declarado inelegível, indiciado pela Polícia Federal, Bolsonaro segue como maior cabo eleitoral da direita, e como ex-presidente, arrasta multidões por onde passa.
Nesta onda verde e amarela que aqueceu até o comércio de blusas da seleção brasileira em Rio Branco, o prefeito Tião Bocalom pretende surfar. O tempo deveria ter sido generoso, mas, entrou água no palanque armado em frente a prefeitura municipal e o ‘dilúvio’ suspendeu o ato de filiação que aconteceria em praça pública. Bocalom teve que dividir o foco das atenções no ato do PL Mulher.
Talvez esse tenha sido o único repentino na agenda traçada pela direita no Acre para recepcionar Bolsonaro. Fora isso, tudo ocorreu dentro do previsível. Multidão no aeroporto na chegada do “mito”, selfies, tietagem, palavras estrategicamente direcionadas nas coletivas, boa culinária, flores, relação ideológica, viagens que colocam Bolsonaro no centro dos holofotes.
Na arte da guerra, se por um lado Bolsonaro não toca no nome de Lula, deve se preparar para uma verdadeira ofensiva do Palácio do Planalto que, com a queda de popularidade do presidente, ver acender uma luz vermelha no jogo político.
A prisão de Jair Bolsonaro é pensada como única maneira de Lula não ter que explicar ao povo brasileiro aquilo que prometeu e não vem fazendo. Uma grande cortina de fumaça, estratégia que o PT é especialista.
Como diria Bonaparte: “Nunca interrompa um inimigo quando ele estiver em processo de autodestruição”.