Quem viu Marcus Alexandre, André Kamai e Daniel Zen sentados em volta da mesma mesa, jamais imaginou, por mais critico que seja, que o cafezinho tomado perdesse o aroma.
Esse estranho composto de fritura pautou a nota assinada pelos petistas André Kamai (vereador eleito) e Daniel Zen (presidente regional do PT) que assumiram o cargo de portavozes da esquerda para replicar acusações feitas pelo emedebista Tanízio Sá.
De ambos os lados, a busca incessante por culpados ao pífio desempenho do PT e do MDB nas eleições municipais de Rio Branco, principal colégio eleitoral do estado.
Marcus Alexandre que até o período de quaresma era vendido como o que existia de melhor na prateleira da esquerda para disputar as eleições municipais com chances de vitória, passou a figurar, pós-resultado das eleições, como rejeitado, numa sinfonia ruidosa que sugere sua distância do PT em 2026.
Incrível como o jeito matuto de Tanízio despertou tantos dissabores a ponto de Kamai e Zen cuspirem no prato servido por Flaviano Melo e, pior, com o dedo na cara, acriminando ao MDB a culpa pela derrota. Logo o MDB que nesta trama, foi uma “barriga de aluguel” para o projeto da esquerda em Rio Branco.
O motivo, segundo a nota, foi a ausência de lado por parte de Marcus Alexandre.
É como se as digitais de Kamai, Zen e toda trupe petista não estivessem no “aceite” para formalização da aliança com o MDB. Soberbos, declararam ainda que o aumento na votação de Marcus Alexandre foi de “míseros 4.659 votos” agregados “ao ativo já construído em sua trajetória no PT”.
Jogo combinado?
A afirmação de uma candidatura fantoche explica a ação do PT nacional que colou – horas antes das eleições – a imagem de Marcus Alexandre à cota de candidatos do presidente Lula. A ação foi considerada uma apunhalada nas costas de cardeais emedebistas.
Nesse jogo de marketing vale lembrar o simbolismo da melancia comida durante as carreatas de Tião Bocalom. Diga-se de passagem, expertise do bom marqueteiro baiano, Zé Américo, para revelar o que estava por trás da candidatura de um petista de carteirinha dentro do ‘glorioso’ mundo azul.
O resultado não poderia ser outro.
O enredo não deu samba e muito menos votos.
Na verdade, o eleitor acreano há muito vem virando a cara para a ladainha petista. O resultado das urnas foi incontroverso: a esquerda perdeu. Perdeu em regiões simbólicas como Xapuri, que sempre representou a luta ambiental liderada por Chico Mendes, berço esplêndido de Marina Silva, Jorge Viana e tantos outros.
É um papo de cafezinho difícil de ser digerido pelos caciques da esquerda. Quem imaginaria uma situação como esta para um partido acostumado a comandar a política estadual e nacional?
Nem tudo, porém é desastroso
As declarações de Kamai e Zen são relampejos de autocritica que demonstram vigilância, marcam posição. A manutenção do PT – maior partido de esquerda – é boa para a democracia. Em nenhuma circunstância podemos viver refém de um lado só, seria burrice.
Parafraseando o eterno Tancredo Neves, digo que não se faz política sem vítimas. Mas pode custar muito caro. O PT já experimentou os efeitos negativos pelo lançamento de mais de uma candidatura de esquerda em eleições majoritárias no Acre.
Vai pelo ralo toda simbologia do bom cafezinho tomado nas esquinas por Marcus Alexandre. E nesse divórcio, criador e criatura precisam se reinventar.
O café perdeu o aroma.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e escritor. Colabora semanalmente com o NH.