O duplo vexame registrado em Mossoró entra na crônica das cadeias brasileiras como um avanço da bandidagem sobre o Estado, independente do desfecho da crise, o fato trincou o cristal da invulnerabilidade dos presídios federais. Relatório da PF aponta uma “rede externa” do Comando Vermelho em apoio aos fugitivos do Acre e “sugere fortemente” a ajuda interna, além de dano qualificado na fuga.
A cada hora que passa fica mais difícil a recaptura dos presos acreanos Deibson Cabral e Rogério Mendonça que na madrugada da quarta-feira de cinzas deste ano, empreenderam fuga inédita do presídio de segurança máxima em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Isso é reconhecido pelo próprio governo federal, que até aqui, tem economizado entrevistas coletivas sobre o avanço das investigações, talvez, impactado pelo triunfo do crime organizado sobre o Estado.
Por terra, a Força-Tarefa formada por mais de 600 homens intensifica as buscas na região de divisa entre os estados do Rio Grande do Norte e o Ceará, onde, populares, reconheceram os fugitivos ontem, dias 29/02, em uma fazenda na região de Baraúna. O local está a 8 km do esconderijo onde os detentos, com ajuda do mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, 38 anos, passaram oito dias. O mecânico é um dos seis presos pela operação.
Enquanto os foragidos não são recapturados, a Polícia Federal (PF) avança na investigação aberta, a pedido do ministro de Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para apurar se houve ou não ajuda interna que facilitou a fuga dos criminosos.
Relatório da PF que o jornal a Folha de São Paulo teve acesso, “sugere fortemente” a possibilidade do recebimento de ajuda, além de dano qualificado.
O uso de barras de ferro para retirar a luminária da parede da cela, objetos de metal encontrados nas telhas por onde os fugitivos empreenderam fuga, ferramentas de corte encontrados no tapume onde a dupla passou facilmente e o desligamento no disjuntor de um poste que facilitou o acesso à área externa do presídio estão entre os indícios apontados na tese da PF para facilitação.
O grande questionamento é como os fugitivos, mesmo no breu, encontraram ferramentas de corte ao chão?
De acordo a Folha de São Paulo, a investigação aponta ainda, que as imagens da ação dos fugitivos para retirar a luminária também sugerem que tenha sido um trabalho demorado e sincronizado, supostamente perceptível mediante simples revista na cela – protocolo que, em tese, não vinha ocorrendo.
Um “parceio forte” dos fugitivos foi preso ontem, dia 29/02, mas, a PF não relatou qual a atuação deste suspeito, no auxílio a Deibson e Rogério. Os investigadores afirmam que, após os telefonemas disparados para o Rio de Janeiro, quando a dupla fez uma família refém, dia 14 de fevereiro, estes passaram a receber ajuda de uma “rede do Comando Vermelho”.
Tal apoio vem permitindo a sobrevivência dos fugitivos no meio da mata onde o acesso é dificultado por questões climáticas, animais peçonhentos e a existência de cavernas utilizadas como esconderijos. São 300 cavernas mapeadas em toda a rota de fuga que compreende mais de 20 km a partir do presídio de Mossoró.
A informação de suposta ajuda interna, fato que coloca o Crime Organizado dentro do sistema de presídios federal, não foi comentada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública que, até aqui, permanece em silêncio absoluto. A imprensa nacional fala no déficit de Dino, o ex-ministro, agora no Supremo Tribunal Federal que, se estivesse no cargo, teria feito diversas coletivas anunciando as medidas necessárias ao caso. Lewandowski, no seu estilo, tem evitado os holofotes.
A infiltração clara do Crime Organizado dentro da política de segurança máxima do governo federal é uma das hipóteses que assusta o Palácio do Planalto. As informações vieram à baila por acesso aos relatórios da PF pelos jornais a Folha de São Paulo e o Globo.
Os cinco presídios federais existentes no país, foram inspirados no modelo americano Supermax que, em tese, ultrapassa o estágio da segurança máxima. O duplo vexame registrado em Mossoró entra na crônica das cadeias brasileiras como um avanço da bandidagem, do crime organizado sobre o Estado.
O Comando Vermelho segue batendo no peito e dizendo: ‘nós somos mais fortes’. Os presos acreanos Deibson e Rogério entraram para a história ao fugirem de onde se pensava, até a quarta-feira de cinzas, ser impossível.
Daí a importância da recaptura dos fugitivos, mas, tal fato, que esperamos que ocorra, não apagará a quebra do cristal da invulnerabilidade dos presídios federais. Muita coisa precisa ser revista. Aliás, o Sistema Prisional como um todo é o calcanhar de Aquiles do Brasil.
Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa, colabora semanalmente com o NH.