Dos limões, uma limonada
No momento de incertezas na economia, apresentar gastos de R$ 400 milhões de recursos próprios nos primeiros cem dias de governo é uma demonstração de equilíbrio financeiro. Isso é fato. Sinal de que a gestão vem fazendo o seu dever de casa.
É inegável também que o impacto econômico seria mais positivo sem a fúria do velho Chico e do rio Acre.
Não é novela mexicana, mas, o governo vive o mesmo capítulo de 2020, quando precisou se reinventar diante da maior crise sanitária dos últimos anos: a covid-19. Aliás, em plena recessão provocada pela pandemia, o estado enfrenta uma nova crise humanitária – que não estava prevista – tendo que socorrer milhares de alagados.
É como se assistíssemos ao trailer do “vale a pena ver de novo”. Renúncia fiscal, prorrogação de refinanciamentos, IPVA, um olhar no presente e outro no futuro. Daqui a três meses, a economia precisa girar, o cidadão que perdeu o poder de compra, tem que estar estimulado a consumir. A fórmula é simples. Se o comércio não vende, não tem imposto. As iniciativas acertadas correm o risco de ir para o brejo.
Essa receita foi muito bem esclarecida pelo empresário Marcelo Moura semana passada em reunião com os secretários Amarisio Freitas (Sefaz) e Assurbanipal Mesquita (Seict). O presidente da Acisa trouxe ao debate o que o mundo está classificando como policrise ou crise sucessivas.
O conceito merece atenção do governo e da sociedade, trata de uma imensa lista de choques que ameaça até a nossa identidade. Choques econômicos, sociais, ambientais, sanitários e humanitários que se encontram e se entrelaçam.
Pandemias, secas, inundações, megas tempestades, incêndios florestais, guerra na Ucrânia, elevados preços dos combustíveis e de alimentos, grandes economias desacelerando, recessão.
Nesse contexto, volto a repetir: o governador Gladson Cameli tem sido gigante e, embora não goste muito de números, é importante destacar duas ações que mostram essa competência. O prato extra para 39 mil estudantes no período de férias; e mais 2.892 cirurgias que diminuíram demandas reprimidas históricas na saúde pública.
É que as vezes a gente cobra demais achando que tudo de ruim só acontece no Acre e, por isso, as famílias estão indo para o sul do país. As sucessivas crises se estendem do existencial ao político, as famílias, o Estado. Estudos comprovam que a policrise afetou nosso modo de ser, de conviver, de produzir, de consumir e de estar no mundo.
Senti falta na apresentação dos cem dias dos dados sobre o superavit da balança comercial. Os resultados positivos foram históricos, colocam por terra qualquer discurso contrário. A primeira carga de exportação de suínos para o Peru é um marco. Quando improvisou, em sua oratória, Cameli até voltou a falar no foco de sua gestão que é a geração de emprego e renda.
O desafio para a próxima década estar no repensar sobre nossa própria existência. É preciso sair dessa tal lei de murici.
Quando o governador busca um discurso uníssono entre os seus secretários, ele convoca o Acre para essa união. É como se em grego falasse sobre o significado de crise que vem do verbo "krinein" e significa distinguir, discernir, resolver um litígio.
Não basta ao estado ser apenas “indutor” do desenvolvimento, é preciso apresentar um plano, metas, protocolos. As federações têm razão quando cobram isso. E estão sabendo cobrar, como Marcelo Moura frisou, nunca antes, estado e iniciativa privada caminharam tão juntos.
Essa semana, o secretário Ricardo Brandão apresenta o Planejamento de estado para a próxima década. Certamente o desafio de voltar a crescer está embutido nessa ousada proposta que começa nesta nova fase de gestão.
Esta é uma grande oportunidade de fazer do limão mais azedo (leia-se crise climática), algo parecido com uma limonada (geração de oportunidades).
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa. Escreve semanalmente para o NH.