Construção dividida em dois trechos tem decisões de impacto ambiental distintas. Enquanto o Peru atesta viabilidade do projeto, no Brasil, a Justiça Federal atendeu apelos indigenistas. Que rota a estrada de ferro que avança pelo Mato Grosso terá ao chegar em Rondônia?
“Esse sonho a gente mantém aceso”, disse o presidente da APEXBrasil, Jorge Viana, sobre a ligação do Acre com o Peru via Pucallpa, em entrevista concedida ao Papo de Cafezinho, na embaixada brasileira, em Lima, no Peru.
De fato, uma luz no fim do túnel foi acessa durante os debates da missão comercial de empresas brasileiras na Expoalimentaria. A Cosco Shipping – holdings que constrói o Porto de Chancay – confirmou seu interesse na construção da rodovia ou ferrovia com trajeto por Cruzeiro do Sul. E não se trata de um simples lobby, a multinacional aplica 1,3 bilhão de dólares (de um total de 4 bilhões previstos) na maior obra da América Latina.
De acordo Jorge Viana, o investimento chinês na construção da ferrovia avança pelo estado do Mato Grosso. Qual rota a obra seguirá ao chegar no estado de Rondônia? Essa é uma resposta que ainda dará muito pano para manga.
Saídas para o mar são temas de confronto.
Dentro do próprio governo federal há divergências sobre o assunto. A ligação do Acre para o Pacífico via Pucallpa esbarra em um campo minado de ideologias.
Se, por um lado, organizações ambientalistas, indigenistas, representação dos povos indígenas e comunidades tradicionais concentram esforços para impedir a nova ligação ao Peru, por outro, desenvolvimentistas pressionam as autoridades políticas para o destravamento do projeto.
A justiça federal bateu o martelo: enquanto não houver um estudo de viabilidade econômica, social e ambiental da obra, nenhum centavo pode ser aplicado no trecho brasileiro. Quem recorreu dessa decisão? Como está esse estudo? A história vai esperar?
Por enquanto, a saída brasileira para o Pacífico menos traumática é o chamado “Corredor Norte” ou Rota Interoceânica. Jorge Viana se somou as muitas autoridades políticas e à caravana de empresários dos estados do Acre e Rondônia, que esta semana, defenderam o fortalecimento do corredor interoceânico.
Diga-se de passagem, que essa é uma pauta que o governo do Acre vem priorizando desde o início do ano. Integrado com a Assembleia Legislativa do Acre, buscou apoio de Rondônia e ganhou o governador Marcos Rocha como um forte aliado.
Essa semana, Rocha afirmou ao Papo de Cafezinho, no Porto de Chancay, que Acre e Rondônia tem que trabalhar juntos para vencer o lobby dos estados do sul e centro-oeste. O governador lembrou a parceria que os estados fizeram para a liberação da vacina contra febre aftosa. Hoje Rondônia é o estado do país com menor taxa de desemprego (2.4), vive praticamente o pleno emprego.
“Tem mercado para todos. Se a gente conseguir trabalhar em conjunto, na prática, ampliar as exportações e importações, todo mundo ganha. Eu tenho uma visão de olhar para o mapa do Brasil e ver todos. Essa união de esforço vai fazer toda diferença. Estou pronto para investir, trabalhar”, afirmou o governador.
Uma coisa é certa em meio a todo esse debate.
O desenvolvimento do Acre passa por uma decisão do presidente Lula.
José Adriano, presidente da Federação da Indústria do Acre tem razão quando fala que o setor privado planeja décadas à frente. Com prospecções milionárias de exportação e importação de produtos entre Acre e Peru firmados na Expoalimentaria, os embaraços alfandegários precisam ser resolvidos urgentemente, sob pena de inviabilizar os primeiros negócios firmados essa semana.
Até agora, as promessas feitas pelo ministro da agricultura, Carlos Favaro ao governo do Acre, não saíram das boas intenções. Só ter boas intenções não é suficiente pra resolver os problemas econômicos de uma região tão complexa como a Amazônia.
Um mundo de oportunidades se abre ao Brasil diante de 4 bilhões de dólares que estão na pauta de investimentos no Peru pela iniciativa privada da China. É inadmissível o governo brasileiro não acenar com nenhuma contrapartida mínima, como o aumento de serviços nas alfandegas, melhor infraestrutura viária, o laboratório de alimentos.
Quem visita o Porto de Chancay sabe que essa obra não é somente para beneficiar o Peru ou a América Latina. A estratégia comercial é mundial.
Se nada for feito, o Acre vai perder o trem da história.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa, escreve semanalmente para o NH.