Parece que só mesmo o imortal Cazuza ainda canta “ideologia eu quero uma para viver”
O eleitorado acreano assiste atônico, mais uma vez, o vale tudo da política regional, onde o coronelismo de barranco se sobrepõe a ideologia. O pífio debate de ideias, a ausência escancarada de projetos.
Do ponto de vista partidário, o que vemos é a presença de clãs arquitetando o destino de siglas partidárias de forma bastante variada, em que aliados de um governante tem opiniões antagônicas sobre um mesmo programa político, transformando o debate em tendências que variam de acordo com o sujeito e não com o coletivo que deveria estar inserido na discussão e decisão partidária.
Tal postura nos lembra Nicolau Maquiavel a quem equivocadamente é atribuída a frase: “os fins justificam os meios”. Pai da política moderna, Maquiavel defende a manutenção do poder com gestos não éticos, astúcia, hipocrisia e até crueldade.
Sem exageros, o pensamento Maquiavel se aproxima da realidade na política acreana.
Quem imaginaria, por exemplo, a filiação de Marcus Alexandre – nascido e criado na esquerda – ao MDB? Wagner Sales, conhecido por sua postura política como o Leão do Juruá, recusando uma aliança entre MDB e PP? Alysson Bestene sofrendo fogo amigo dentro do partido que governa o estado? O PT preferindo gestores infiéis que apoiaram Gladson Cameli em 2022?
Há quem sinta saudades dos tempos de UDN e PSD, onde um filiado jamais passaria na porta do partido adversário. Naquela época, mudar de sigla estava fora da pauta.
Embora os políticos sejam velhos, os tempos são novos.
Vivemos um momento em que os pré-candidatos estão preocupados em se eleger sem vergonha de mudar o discurso, elogiar quem criticava ou descer a lenha em quem jurava “amor eterno”. Parece que só mesmo o imortal Cazuza ainda canta “ideologia eu quero uma para viver”.
A ideia agora é buscar o partido onde a pessoa terá chances reais de ser eleita. Vejamos: Um deixa o PT e se filia ao MDB porque a sigla que ele militou a vida inteira está “muito queimada”. Outro muda para um grupo que oferece mais recursos financeiros. Há quem saia de uma sigla para outra por discordância interna, e por aí vai... Nessa ciranda partidária vale até negar a cor – viver o efeito cromatóforo dos camaleões.
Estamos apenas na pré-campanha, até as convenções muita água ainda vai passar por debaixo da ponte.
O que é profundamente lamentável é a ausência do debate sobre pautas importantes como segurança pública, a saúde abalada pelos casos de dengue, o transporte público de péssima qualidade entre outros.
Uma recente pesquisa do jornal a Folha de São Paulo a nível nacional mostrou que 17% das pessoas apontam a segurança pública como o desafio mais complexo do Brasil atrás apenas da saúde (23%). E o que isso tem a ver com a municipalidade? Praticamente tudo, infraestrutura, iluminação pública, geração de emprego e renda, as promessas de campanha e a dura realidade de vida mostram que as medidas contra a violência estão menos efetivas.
Esse é um papo de cafezinho longo.
Arrisco a dizer que Maquiavel se inspirou no “O Principe” para mostrar a realidade da política. “Os fins justificam os meios”, lembre-se que Maquiavel não disse essa frase, ela é atribuída a sua obra, estar alinhada ao seu pensamento.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e escritor. Colabora com o NH semanalmente.