A agenda da ministra do planejamento Simone Tebet, no Acre, na próxima terça-feira, dia 9, poderá ser um divisor de águas para a integração do Acre com o Peru, e no atual contexto, a sonhada integração com a China.
O investimento de US$ 3,6 bilhões (R$ 17,8 bilhões) na construção do Porto de Chancay, em Lima, é visto por desbravadores, empresários, técnicos e políticos como a cereja do bolo que faltava nesse trajeto que, diga-se de passagem, foi iniciado na década de 60, quando Juscelino Kubitschek decidiu abrir o oeste brasileiro.
Embora efetivamente esse projeto esteja sendo executado há 40 anos, a linha do tempo é cruel com os reais objetivos da rota. E a vontade política dos presidentes que sucederam a Kubitschek, idem. Para se ter uma ideia, a ligação entre Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco aconteceu somente em 1983. Até aqui são exatos 64 anos de sonho, com muitas boas intenções, mas, na prática, poucos resultados.
Ainda assim, o Acre pode afirmar ao governo federal que “a rota existe, o corredor está pronto”, depende apenas de alguns ajustes, ações que dependem quase que exclusivamente da boa vontade política [o querer fazer] do governo federal, pontuadas por décadas pelo setor produtivo representado pelas federações e associações ligadas à indústria e o comércio.
Ora, os resultados da participação do Acre na Expoalimentaria 2023, embora pequenos do ponto de vista econômico, são ensaios que demonstram claramente a viabilidade econômica do corredor. 34 milhões de pessoas no Peru dizem literalmente ao Acre: “queremos alimentos”. Na contramão, o Peru também tem uma oferta gigantesca de produtos que podem ser consumidos pelos acreanos, barateando custos e melhorando a qualidade de vida.
Simone Tebet visitou o Porto de Chancay antes de vim ao Acre
As exportações que atingiram os 45 bilhões de dólares ano passado, podem aumentar significativamente após a consolidação do trajeto entre Acre e Peru, chegando ao porto de Ilo e, posteriormente, Chancay. O governo do Acre acertou na política de comércio exterior quando intensificou o debate, buscou parceria com Rondônia e Mato Groso. O foco é a redução de custos logísticos. A previsão é que ao longo dos anos, as exportações brasileiras pelo porto podem atingir a soma de até US$ 30 bilhões (R$ 148,9 bilhões).
Com o aumento das exportações de commodities como soja e o milho o estado se apresenta de forma promissora ao mercado mundial, especialmente a China uma vez que o Porto de Chancay representa também uma consolidação dos investimentos da China no Peru.
Nessa sexta-feira, 5, o Fórum de Inovação Empresarial e Desenvolvimento, a Federação da Agricultura e Pecuária e o governo do Acre, representado pela Secretaria de Estado de Indústria, Ciência e Tecnologia (Seict) se reuniram mais uma vez para apontar desafios de exportações dos setores agropecuários e agroindustrial do Acre.
Não dá para dizer que o estado do Acre não tem feito a sua parte. Graças ao esforço conjunto dos secretários Assurbanipal Mesquita (Seict) e Ricardo Brandão (Seplan) o Acre conseguiu a partir de 2023 ser inserido no debate como rota alternativa para o fortalecimento do Corredor Interoceânico de comércio bilateral Brasil-Peru e Brasil-Bolívia, visando o comércio asiático. A criação do Subcomitê de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano reforça essa pauta.
Estamos diante da maior oportunidade de desenvolvimento econômico da história. Com a palavra, a ministra Simone Tebet, isto porque o Brasil precisa fazer investimentos em infraestrutura para levar produtos do país à costa do Peru e, vice versa, ser um entreposto, entrada de produtos do oriente e da América Latina para o Brasil.
E pensar que foi Juscelino Kubitschek decidiu abrir o oeste brasileiro há exatos 64 anos. Não se pode mais adiar esses investimentos, burocratizar, ficar no chove e não molha. Ai estaríamos mais uma vez sujeitos a assistir o desenvolvimento passar.
Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa. Colabora semanalmente como NH.