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Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca

Perfis de ameaças a escolas do Acre podem ter seguido uma “chamada à ação” para gerar pânico e estimular a prática de crimes reais

Perfis de ameaças a escolas do Acre podem ter seguido uma “chamada à ação” para gerar pânico e estimular a prática de crimes reais

"call to action"

Estudo revela que uma terceira onda de Fake News relacionada a violência na escola ocorreu entre os dias 9 e 10 de abril com conteúdo associado ao crime organizado. O foco das mensagens são jovens que estão fora da escola e tem intenção de agir violentamente, participam do TCC – fascinados pelo assassinato ou terrorismo.

Um levantamento exclusivo sobre o ataque ocorrido na creche infantil de Blumenau (SC), no último dia 5 de abril, mostrou que houve um terceiro pico de publicações com ameaças registrado cinco dias depois o crime que chocou a sociedade brasileira. Especialistas alertam para uma ação planejada. Foi identificado nesta nova onda um tom associado ao crime organizado e uma nova forma de circulação dessas mensagens, saindo do Twitter e Tik Tok para grupos de WhatsApp e Telegram.

Suspeita-se da existência de uma ação coordenada com o objetivo de causar pânico. O efeito de “Call to action” (chamada à ação) incentiva adolescentes que já tinham intenção de agir de forma violenta. Os pesquisadores que assinam o documento que serviu como base para o debate na Câmara Federal no último dia 19, monitoram grupos de redes sociais formados por uma maioria jovem, onde conteúdos voltados para atiradores e sobre ataques a escolas costumam circular.

Esses jovens participam do chamado True Crime Community (TCC), que em português significa: Comunidade de Crimes Reais, grupo que faz parte do que é conhecido como subcultura online – oposto a cultura dominante – fascinado pelo assassinato ou terrorismo. Segundo a pesquisa, dos nove responsáveis por ataques a escolas brasileiras, seis faziam parte da TCC e de outras subculturas.

O perfil Fake do Instagram que ameaçou estudantes do Acre foi disparado em 11/04, dois dias após a nova onda de mensagens ameaçadoras espalhadas pelo Brasil. Esse e outros perfis identificados pelas investigações da Polícia Civil (PC), podem ter agido no que especialistas chamam de “efeito contágio” – quando a repercussão de um caso acaba estimulando que ocorram outros semelhantes.

No estado do Acre – graças ao trabalho da PC – a ação ficou apenas na intenção, mas, nos estados do Amazonas, Goiás e Ceará, pelo menos 3 ataques em 48 horas, foram registrados em escolas públicas após o disparo das mensagens e Fake News. O estudo mostra que os autores dos atentados no Amazonas e em Goiás, faziam parte da subcomunidade TCC.

A pesquisa foi feita pela Lupa em parceria com a Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI-FGV) e FGV Direito Rio.

O clamor popular após o crime na creche de Blumenau se transformou em oportunidades de fazer o Congresso endurecer as regras para quem pratica crimes no interior de escolas ou em unidades de saúde.

Várias Assembleia Legislativa – entre elas a do Acre – aprovaram a toque de caixa, a instalação de detectores de metal nas escolas públicas. No estado, caso o PL seja sancionado pelo governador Gladson Cameli, a medida custaria milhões aos cofres públicos, são mais de 1.500 unidades escolares que precisariam ser equipadas.

Pelo menos 16 medidas semelhantes além da implantação de detectores de metal foram aprovadas pelas Assembleias Legislativas de todo o país, todas elas, repudiadas por especialistas em educação que sequer foram chamados para o debate.

O presidente Lula, em reunião com ministros e governadores para tratar sobre o tema de violência na escola, parece ter colocado um “freio” nas medidas aprovadas à toque de caixa, pediu para não transformarem as escolas brasileiras em presídios de segurança máxima.

“Se tentarmos fazer isso estamos dando a demonstração que não servimos pra muita coisa, porque não sabemos resolver o problema real" disse o presidente.

A escola exclui e o crime acolhe.
Na próxima edição do papo de cafezinho, vamos abordar o olhar pedagógico de especialistas para a aprovação de projetos como o do deputado estadual Chico Viga (PDT) que exige a instalação de detectores de metal na porta das escolas da rede pública e privada.

Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa. Escreve semanalmente para o NH.