Essa briga no andar de cima da política acreana, onde representantes sabe-se Deus de quem, fazem questão de se expor negativamente, me lembra aquela treta na saída da escola onde um colega esticava a mão entre dois desafetos e provocava: quem é homem cospe aqui primeiro!
Esse é um papo de cafezinho daqueles amargos.
Confesso que em quase quatro décadas fazendo política, nunca vi antes, tamanha exposição política espontânea por pessoas que assumem funções públicas relevantes – eleitos com voto do povo – diante de valores que, em tese, deveriam servir como elo simbólico entre membros que compartilham o mesmo sobrenome. O orgulho em capital político-eleitoral jogado na lata do lixo.
Assim tem sido a “roleta russa” pelas redes sociais onde a deputada federal Antônia Lúcia e o deputado estadual Manoel Morais, na tentativa de provar honra, apresentam uma série de postagens que expõe crianças e um conteúdo de faroeste nada recomendável, que nos remete à época do cangaço em que se resolvia questões como essa no “olho por olho e dente por dente”.
É uma questão de fórum intimo, escrevi aqui, sobre a exposição que agentes políticos sofrem com o jornalismo digital. A Carta Magna do Brasil em seu artigo 5º, inciso X, afirma serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Mas, esse foi um caso emblemático em que jornalistas e editores nem precisaram ir atrás de conteúdo. Áudios, fotos, imagens entraram nas redações de forma gratuita ou motivados por decisões pessoais que não mediram consequências.
É lamentável, muita gente conhece o deputado estadual Manoel Morais, a deputada federal Antônia Lúcia, a sua filha Gabriela Câmara. São pessoas que têm folhas de bons serviços prestados a sociedade.
É preciso muita oração!
Continuar alimentando diria até, de forma insana, esse debate pelas redes sociais, fere sem dó a intimidade de menores indefesos. A quebra de sigilo antecipou a legítima defesa. Não foi a imprensa que desnudou ou deixou de preservar a dignidade e a intimidade das partes envolvidas.
Muitos questionamentos vêm sendo feitos pela sociedade diante desse escândalo, que vai enfrentar um longo processo nas esferas judiciais. Até o veredito final, como fica a guarda das crianças? Que acompanhamento psicológico tem sido dado aos menores? E o direito a escola?
O que intriga é que assistimos o número de denúncias de estupros, abusos, exploração e outras violências sexuais contra crianças e adolescentes, algo em torno de 48% nos quatro primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, revelam dados inéditos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicados no Jornal Folha de São Paulo.
Em todo o ano passado, foram feitas 11 mil denúncias com esse perfil.
Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa e escritor. Colunista do NH.