Discurso com nuances de ‘paz e amor’ proferido por Jorge Viana durante evento da APEX, contracenou com a decisão do PT de expulsar prefeitos que, mesmo nos braços do povo, são considerados ‘infiéis’ por desalinho nas eleições de 2022.
Enquanto o presidente da APEX, ex-senador Jorge Viana, dissipava ‘paz e amor’ durante encontro com empresários do setor produtivo, no auditório da Fecomércio, ontem (16), na apresentação da APEX ao Acre, a ala ‘radical’ do Partido dos Trabalhadores (PT) decidia pela expulsão de prefeitos e vereadores considerados infiéis. Foi como jogar água no chope da festa preparada para trazer Jorge Viana de volta ao cenário político. Discurso distinto, logo no PT, acostumado a tantos debates internos e estratégia de argumentação externa bem alinhada.
Acabaram expondo toda a imbecilidade da institucionalização partidária. Se por um lado a fidelidade questionada tem amparo constitucional, o vínculo entre eleitores e os candidatos é mais personalista do que partidário, não estão nem aí para as questões programáticas ou ideológicas.
Esse disparate, apontou a porta da rua como serventia da casa para três prefeitos que estão entre os melhores avaliados em pesquisa de opinião pública: O professor Jerry (Assis Brasil) com 75% de aprovação entre ótimo e bom; Isaac Lima (Mâncio Lima) com 58% e Fernanda Hassem, com 48%. Os dados são do instituto Data Control divulgados no fim de semana.
Coincidência ou não, Jerry assistia a palestra empolgante de Jorge Viana sentado na última fileira do auditório lotado para o grande encontro. Ele é o prefeito mais bem avaliado do Acre.
Foi um final de tarde inusitado
Quem foi ao encontro atendendo o convite das federações ligadas ao sistema ‘S’, viu um Jorge Viana empolgado e, ao mesmo tempo, criterioso até em informar como conseguiu – quando o banco disse que tinha acabado o dinheiro – aprovar um financiamento de R$ 1,5 milhão que fez junto ao BASA para ampliar sua plantação de café. “Estou endividado, mas, vou pagar” disse o presidente da APEX.
Café é um dos produtos acreanos que Jorge quer levar ao mundo. Além disso, 50 empresas serão preparadas para exportação. A meta ousada é de chegar a US$ 250 milhões, algo em torno de R$ 1,2 bilhão de faturamento por ano somente com exportações de produtos da região.
Dezesseis anos depois, quem sobreviveu, viu o autor do conceito de florestania falar em ampliar a área plantada de soja e, também, levar nossa carne para China. Tudo com conceito de sustentabilidade.
Mais cedo Jorge Viana já tinha estado com o governador Gladson Cameli a quem manifestou a vontade de “andar juntos” pelo desenvolvimento do Acre. O encontro no palácio Rio Branco foi restrito, mas, em tom muito amigável.
A agenda com um tom suave na área ambiental só não combinou com o extremismo de alguns aliados que corriam para dissipar das fileiras do PT, membros que, mesmo nas graças do povo, foram considerados infiéis ou desalinhados com a política partidária, apoiadores fora do eixo nas eleições de 2022 que fizeram campanha para Gladson Cameli (Progressistas).
Dois dos prefeitos expulsos: Professor Jerry (Assis Brasil) e Fernanda Hassem (Brasileia) são da região de maior potencial industrial, o Alto Acre, onde estão localizadas plantas autorizadas para exportação de proteína animal para o Peru e a maior parte da área plantada de soja e milho. Como será essa relação entre tapas e beijos?
O Jorge Viana sendo ele mesmo.
Quando comparou números de exportações do seu governo – há 16 anos atrás – e a gestão atual, o petista parece ter se esquecido dos impactos da covid-19 na economia mundial e até as consequências dos conflitos entre Rússia e Ucrânia que chegaram ao nosso bolso. Preferiu uma metódica revanchista. Nem seus sucessores (Binho Marques e o irmão, Tião Viana) ficaram isentos das críticas.
Em meio a desalinhos, na quebra de protocolo, Jorge Viana acabou rifando do roteiro a apresentação pelo Estado do Acre da agenda de negócios e a política de comercio exterior preparada para os próximos anos.
O mal estar foi visível nos ânimos de assessores que acompanharam o secretário de Indústria, Ciência, Comercio, Tecnologia, Empreendedorismo e Turismo, Assurbanipal Mesquita. Teve presidente de federação que se ausentou do local antes do desfecho.
Há quem aposte todas as fichas que por trás de tantas ‘boas intenções’ esteja a pavimentação de uma pré-candidatura de Jorge Viana ao governo em 2026. Além de contar com a estrutura do governo federal a seu favor, ele sabe que não terá mais um Cameli pela frente.
A política de comércio exterior precisa ser do tamanho desse desafio na estrutura de governo. “Andar junto” nem sempre significa olhar na mesma direção.
Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa.